Blog Boviplan

Os números das exportações brasileiras de carne bovina se mantêm em alta por meses seguidos. Segundo informações da Scot Consultoria, os embarques de carne in natura, do Brasil, na primeira quinzena de setembro, foram de 65,6 mil toneladas, com faturamento de US$ 267,9 milhões. Esse número representou um aumento de 24,6% em volume quando comparado ao mesmo período de 2019. Segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) em seu Beef Report 2020, o PIB da pecuária de corte, em 2019, representou 8,5% do PIB nacional total. Este número dá a exata dimensão da importância do setor à economia brasileira. O agronegócio vem sustentando o PIB já há algum tempo, e o setor de carnes tem muito a ver com isso.

Ainda segundo a Abiec, o volume total exportado, em agosto, foi de 191 mil t de carne bovina, um número 1,5% menor do que o total exportado em julho do mesmo ano, que foi de 194 mil t. Na série histórica dos últimos doze meses, outubro de 2019 foi aquele em que o Brasil mais exportou, com 198 mil t embarcadas.

O estado brasileiro que mais exportou em 2019 foi São Paulo, seguido de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rondônia. Rondônia vem se tornado um importante centro produtor de carne bovina nos últimos anos, com uma pecuária de alta qualidade. Os maiores compradores da nossa carne são China, Hong Kong, Egito, Chile e União Europeia.

No quadro Preços do Boi Gordo no Mundo, podemos observar os valores da arroba do boi gordo, em dólares americanos, em quatro dos principais países exportadores de carne bovina, no período que vai de 17 de agosto a 15 de setembro de 2020.

Nesse período, houve uma valorização da arroba do boi gordo no mercado internacional, nos quatro países avaliados. Esta valorização foi da ordem de 13,4%, puxada principalmente pela expressiva alta verificada na Austrália, onde o valor da arroba saltou, na média, de US$ 58,55 para US$ 79,56 (alta de 35,9%). A arroba, na Austrália, varia bastante, ora com expressivas altas, ora com significativas baixas. A venda de carne bovina, naquele país, sofreu queda de 27% no mês de agosto. Com forte valorização da moeda australiana frente ao dólar, o país tem encontrado dificuldade em escoar seu produto no mercado internacional. No entanto, a variação da carne australiana, ao longo do período avaliado (21 dias úteis), foi de apenas 1,73%. Isto também ocorreu com a carne argentina (1,06%). A carne brasileira, por outro lado, valorizou 13,66% no período, passando de US$ 41,42 para US$ 47,08%. A carne brasileira continua em alta no mercado internacional, com exportações firmes, principalmente, para China, Hong Kong, Egito, Chile e Rússia, entre outros. O dólar em alta em relação ao real facilita a exportação. No entanto, neste período, o Brasil aumentou bastante o valor da arroba em relação à Argentina, tronando-se um pouco menos competitivo quando comparado àquele país. Em relação à carne americana, o Brasil aumentou o valor relativo da arroba em comparação ao período anterior, passando a valer 84,37%. Terminou o período valendo 59,22% da carne australiana e um pouco mais cara que a carne argentina (9,36%). Estas alternâncias são normais. O importante é o Brasil manter a liderança como país exportador.

O gráfico Evolução do preço da arroba do boi gordo por UF (Unidade da Federação), apresenta a variação de preços da arroba do boi gordo a prazo em nove dos principais estados produtores de carne do país. A avaliação foi realizada entre os dias 17 de agosto e 15 de setembro. No mercado interno do boi gordo, o preço da arroba continua em alta, batendo recordes nominais a cada mês. Em mais um período de alta, a arroba do boi gordo a prazo valorizou, na média, 6,35%, mais do que os 4,89% do período anterior. Desta feita, o valor da arroba subiu de R$ 215,10 para R$ 228,75, na média das nove praças pesquisadas. Na praça considerada referência para todo o país, São Paulo, o valor da arroba do boi gordo fechou o período (dia 15/09) a R$ 249,50, com valorização de 9,67% (R$ 227,50 no dia 14/08), sendo que a média no estado foi de R$ 236,83. O mercado continua firme e nada indica uma queda nos valores da arroba no curto prazo.

O cenário para os demais estados avaliados repetiu o período anterior, onde todos apresentaram alta nos preços da arroba do boi gordo a prazo, à exceção do Rio Grande do Sul. Em nova desvalorização, desta vez de 3,25%, a arroba do boi cruzado nos pampas terminou o período valendo R$ 214,50 (R$ 7,15/ kg) em média. Nos demais estados, a valorização média foi de 7,63% contra 5,71% do período anterior. Desta vez o estado onde a arroba mais se valorizou foi o Pará, com 11,16%, passando de R$ 210,75 para R$ 234,27. Na sequência vêm MT (9,41%), MS (7,74%), GO (7,55%), SC (7,50%), MG (6,26%), PR (5,75%) e SP (5,66%). É interessante notar a redução significativa que vem ocorrendo entre o valor da arroba no estado de São Paulo com relação aos demais, em uma tendência de equilíbrio de preços nas diversas praças.

No gráfico Média do preço da desmama, podemos observar a média dos preços pagos pelo macho Nelore desmamado de 180 kg (6@), em oito das principais praças produtoras do Brasil. O levantamento foi realizado entre 17 de agosto e 15 de setembro.

A exemplo do valor da arroba do boi gordo, a categoria da desmama também apresentou uma alta expressiva, ainda maior do que a verificada no período anterior. A média passou de R$ 1.915,57 para R$ 2.042,86, alta de 6,65% (contra 5,05% do período anterior). O setor da cria vem dando um excelente retorno ao produtor nos últimos meses, e deve continuar assim mais um pouco. O preço por animal desmamado subiu de novo em todos os estados avaliados, sendo que em Minas Gerais, pela segunda vez consecutiva, a alta foi maior: 13,43%.

No estado de São Paulo, a desmama é a mais valorizada do país. Neste período o valor médio por cabeça da categoria ficou em R$ 2.166,67, com alta de 3,17%. Nos demais estados, a situação ficou a seguinte: alta no PR (9,21%); no MT (8,45%); em GO (7,91%); no PA (4,76%); no MS (4,05%) e no RS, com apenas 1,74% de valorização, cotado a R$ 1.585,71, mas dando sinais de queda.

No gráfico Relação de Troca Média, podemos ver as relações de troca do bezerro macho desmamado (180 kg) e do boi magro (360 kg) com o boi gordo do (16,5@), ), entre 17 de agosto e 15 de setembro.

Mais uma vez, não tivemos grandes alterações na taxa de relação de troca entre desmama e boi gordo, como vem ocorrendo já há algum tempo. No atual período, variou positivamente de 1:1,84 para 1:1,86, ajudando um pouquinho o invernista. A variação no preço da arroba do boi gordo é praticamente a mesma variação no preço da desmama, mantendo a relação estável. O RS mantém-se à frente dos demais com uma taxa de 1:2,36, alta de 5,62% em relação ao período anterior. A seguir vem o estado do PA (1:1,92), PR (1:1,90), MS (1:1,80), MG e SP (1:1,79), GO (1:1,71) e MT (1:1,64).

Também na categoria boi magro, houve uma pequena alta na relação de troca, desfavorecendo o criador. A taxa ficou em 1:1,24, contra 1:1,22 do período anterior. A relação de troca desta categoria ficou em 1:1,43 no RS, sempre o estado com a melhor taxa. Na sequência, tivemos PA (1:1,30), MG (1:1,26), PR (1:1,23), SP (1:1,19), GO e MT (1:1,18) e MS (1:1,17).

Esta coluna procura alertar o produtor para a questão da gestão. Obter bons índices de produção está cada vez mais fácil, pois a tecnologia está disponível a todos, assim como a informação. Com bons técnicos e um bom projeto, os resultados aparecem. Mas falta um item de extrema importância nesse cenário: o recurso, ou melhor, os recursos. E o que são estes recursos? São todas as condições necessárias para a obtenção de resultados satisfatórios na atividade: dinheiro, maquinário, instalações, mão de obra etc. E gestão, o que é? É a forma de gerir estes recursos da maneira mais eficiente possível. O bom pecuarista, aquele que vai, efetivamente, ganhar dinheiro com a atividade. E aquele que melhor souber administrar seu negócio. Produtor, dê atenção e qualidade à sua gestão!

Autor: Antony Sewell, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.
Matéria publicada na Revista AG – Edição Outubro – 2020