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As exportações brasileiras de carne bovina continuam firmes, batendo recordes em volume e valores. Segundo a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos) o volume de carne bovina in natura e processada exportada pelo Brasil, no acumulado de 2020 até o mês julho, soma mais de 1,1 milhão de toneladas. Este volume é mais de 10% acima das mais de 999 mil toneladas que foram exportadas no mesmo período do ano passado. A receita, no entanto, cresceu bem mais do que isso, na casa dos 25%, chegando em US$ 4,7 bilhões.

Ainda segundo a Abrafrigo, a China é o nosso maior comprador com mais de 634 mil t no acumulado de 2020 até julho, volume 66% maior do que o negociado em igual período de 2019. Assim, adquire 57,5% da carne brasileira enviada ao mercado internacional, à frente do Egito, do Chile e da Rússia. E é responsável por importar 10% de todo o volume de carne bovina produzida no Brasil.

O quadro Preços do Boi Gordo no Mundo mostra os valores da arroba do boi gordo, em dólares americanos, em quatro dos principais países exportadores de carne bovina, de 16 de julho a 14 de agosto de 2020.

Contrariando o resultado obtido no período anteriormente avaliado, a arroba do boi gordo no mercado internacional caiu um pouco. A baixa foi de 3,56%, puxada principalmente pelos mercados australiano e americano. No entanto, nos dois últimos dias deste período (13 e 14 de agosto), a arroba australiana apresentou forte reação, fechando a US$ 78,15, valor 33,48% acima da média de US$ 58,55. Ao longo dos últimos períodos avaliados, o valor da carne tem oscilado muito no país dos cangurus. Por outro lado, a carne brasileira no mercado internacional apresentou alta de 3,90%. A valorização se deve à forte demanda e à desvalorização do Real frente ao Dólar.

Neste período, a Argentina que apresentou a maior valorização da carne no mercado internacional (8,30%), seguida pelo Brasil (3,90%). Por outro lado, tanto os Estados Unidos (-8,34%) como a Austrália (-10,97%) viram o preço dos seus produtos despencarem na média. Avaliando de forma pontual, no último dia do período avaliado (14/08), o valor da arroba australiana foi de US$ 78,15, seguida pela americana (US$ 52,80), argentina (US$ 41,88) e brasileira (US$ 41,80). Com a forte alta no país dos pampas, a carne brasileira apresentou o menor valor no final do período, tornando-se ainda mais competitiva no mercado internacional. E fechou o período valendo 79% da carne americana, 53% da carne australiana e no mesmo valor da carne argentina.

No gráfico a seguir, Evolução do preço da arroba do boi gordo por UF (Unidade da Federação), observarmos a variação de preços da arroba do boi gordo a prazo em nove dos principais estados produtores de carne do país entre os dias 16 de julho e 14 de agosto de 2020.

O mercado interno do boi gordo continua bastante aquecido com uma valorização de 4,89% na média da arroba do boi gordo a prazo, praticada em nove das principais praças produtoras do país. O valor subiu de R$ 205,07 para R$ 215,10 por arroba. Em São Paulo, praça de referência para o valor da arroba do boi gordo no país, o período avaliado fechou com a arroba valendo em R$ 227,50. A média no Estado de São Paulo foi de R$ 224,14, uma variação positiva de 4,77% em relação ao período anterior. Apesar de escalas um pouco mais longas nos frigoríficos, o mercado não apresenta sinais de retração.

Todos os estados avaliados apresentaram alta nos preços da arroba do boi gordo a prazo, à exceção do Rio Grande do Sul com desvalorização de 0,91% e a arroba do boi cruzado valendo R$ 222,00 na média do período. Nos demais estados, a valorização média foi de 5,71%. O estado onde a arroba mais se valorizou foi Minas Gerais, com 7,88%. Em seguida vieram os estados de Santa Catarina (6,60%), Mato Grosso (6,02%), Mato Grosso do Sul (5,64%), Pará (5,16%), Goiás (4,95%), São Paulo (4,77%) e Paraná (4,65%).

O próximo gráfico, Média do preço da desmama, apresenta a média dos preços pagos pelo macho Nelore desmamado de 180 kg (6@), em oito das principais praças produtoras do Brasil entre os dias 16 de julho e 14 de agosto de 2020.

A categoria de desmama – macho nelore com oito meses de idade e 180 kg de peso vivo – experimentou, mais uma vez, grande valorização. A média passou de R$ 1.823,47 para R$ 1.915,57, com valorização de 5,05%. O setor de cria continua firme e com preços bem vantajosos. O preço por cabeça subiu em todos os estados avaliados mais uma vez. O que apresentou a maior valorização foi Minas Gerais, com 10,17%.

Nos demais estados a situação ficou a seguinte: alta de 9,05% no MT, de 7,32% no RS; de 5,99% em GO; 4,38% no PR; 2,82% no PA; 1,54% em SP e, finalmente, 0,69% no MS. Em SP, onde a desmama é a mais valorizada do país, o bezerro foi negociado á média der R$ 2.100,00. No RS, o bezerro permanece o mais barato do país, cotado à média de R$ 1.558,64; porém já fechou o período, em 14 de agosto, a R$ 1.620,00 por cabeça.

A Relação de Troca Média, título do último gráfico, mostra as relações de troca do bezerro macho desmamado (180 kg) e do boi magro (360 kg) com o boi gordo (16,5@) entre 16 de julho e 14 de agosto de 2020.

A relação de troca entre desmama e boi gordo mantém no mesmo nível há dois meses. Observamos, agora, uma pequena alta no índice, que passou de 1:1,83 para 1:1,84. Continuamos num cenário onde os diferentes sistemas de produção valorizam-se igualmente, tanto cria como engorda mantém a relação entre si e ambas saem ganhando. O RS segue à frente dos demais estados com taxa de 1:2,23, ligeiramente menor do que no período anterior, seguido pelo PR com 1:1,9, pouca coisa maior que no período anterior. Na sequência vêm MG (1:1,91), PA (1:1,80), SP (1:1,75), MS (1:1,74), GO (1:1,71) e MT (1:1,62).

Na categoria boi magro, houve uma pequena queda na relação de troca, desfavorecendo o invernista, que viu seu poder de compra cair 3,53% (de 1:1,26 para 1:1,22). O invernista sul-mato-grossense é o que mais perde com a compra da reposição, pois só consegue 1,09 cabeças de boi magro por cabeça de boi gordo negociada. Por outro lado, no RS, a relação de troca é a mais favorável aos terminadores: 1:1,32.

A relação de troca é muito impactante no segmento da engorda. Se a taxa estiver muito baixa, o terminador terá problemas na rentabilidade do ano seguinte. Assim, o confinamento, por exemplo, pode ser influenciado por uma reposição cara, uma vez que o custo de reposição pode representar 65% dos custos totais da atividade. Se os grãos estiverem caros, a rentabilidade pode cair ainda mais, tornando o negócio altamente arriscado. Mas, infelizmente, o produtor pouco (ou nada) tem a fazer a não ser cuidar muito bem do seu negócio, principalmente quanto à gestão das suas despesas.

Olhar o mercado é sempre a melhor forma de se manter a par de preços, negociações e oportunidades. Um produtor bem informado e bem assessorado consegue antever tendências e planejar de forma mais tranquila e assertiva suas ações. Este pensamento é válido tanto para a questão econômica quanto operacional do seu negócio. Não são só os preços de venda que determinam o resultado de uma atividade econômica, mas também como se tratam os custos do negócio. Gastar bem é o segredo!

Autor: Antony Sewell, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.
Matéria publicada na Revista AG – Edição Setembro – 2020