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Nos últimos anos, houve um aumento na produção de etanol proveniente do milho. Para a safra 2021/2022, a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de uma produção de 3,36 bilhões de litros de etanol de milho, o que representa um aumento de 29,7% em relação ao período anterior, demonstrando o interesse das usinas em utilizar a matéria-prima abundante no país. Os resíduos decorrentes do processo de esmagamento do milho, conhecidos como DDG ou WDG, também são aproveitados pelo próprio agronegócio para a nutrição animal, assim como o óleo de milho.

 O DDG (ou grãos secos de destilaria) é um subproduto da produção do etanol, que é obtido através da fermentação do amido de grãos de milho. Esse subproduto do etanol de milho é utilizado, há anos, por pecuaristas em países como Estados Unidos, Argentina e Paraguai. Com a expansão do mercado do etanol de milho no Brasil, o DDG começa a ser ofertado também no mercado nacional com importante relevância para a nutrição do gado de corte. A previsão é que a produção de DDG no Brasil ultrapasse 2 milhões de toneladas em 2021/22, valor 60% maior que as 1,3 milhão toneladas produzidas na safra anterior.

A preparação tradicional do DDG se inicia com a moagem do milho, que após o cozimento segue para a etapa de fermentação e destilação, dando origem ao etanol e um material residual. Deste residual, são produzidos outros três produtos, tais quais: óleo, solúveis e o WDG. O WDG por sua vez, após ser submetido ao processo de secagem, origina o DDG.

Fonte: SPEROTTO, F. C. S. Adaptado

Ao se tratar de WDG, falamos em grãos destilados úmidos, por este motivo a sua utilização é limitada pelo tempo de conservação, uma vez que ele resiste somente de 5 a 7 dias no ambiente sem deterioração. Micotoxinas, fungos e outros contaminantes são considerados problemas potenciais. Usinas de etanol rotineiramente testam as cargas de grãos que entram as plantas e rejeitam cargas contaminadas. Isso é importante porque as micotoxinas não são destruídas durante o processo de fermentação do etanol ou durante a produção de DDG, representando um risco para a saúde humana, já que as micotoxinas podem ser transferidas para a carne e leite.

No momento da secagem do WDG para transformá-lo em DDG, deve-se atentar a temperatura, que pode atingir de 120°C a 560°C dependendo da usina. O superaquecimento pode levar a redução nos níveis de aminoácidos, além de diminuir a palatabilidade do produto afetando a digestibilidade e, consequentemente o desempenho animal. Ao se tratar da cor do DDG, pode haver alterações de acordo com o aquecimento, variando de escores muito leves à escores muito escuros e odor que pode variar de normal à queimado. A cor escura juntamente com odor queimado possivelmente é causada por elevadas temperaturas no momento da secagem. Por este motivo, antes de se utilizar o produto em uma dieta , recomenda-se analisar o teor de nitrogênio ligado ao FDN, a fim de se corrigir os teores de proteína prontamente disponível para o animal.

O teor de umidade do DDG fica em torno de 10 a 12% geralmente, isso permite que o produto seja armazenado como a maioria dos outros concentrados que são oferecidos aos animais, como exemplo, barracões expostos ao ar. Além de poder servir como suplemento para animais à pasto, uma vez que possui a matéria seca mais elevada (88% a 90% de matéria seca).

Fonte: VALADARES FILHO, S. C. et al. Adaptado

Devido a utilização do amido como substrato para a realização do processo fermentativo, tendo em vista a formação do etanol, esse nutriente se apresenta em baixas concentrações, cerca de 2% a 5%.

Se tratando dos teores de proteína bruta, o DDG apresenta em média 25 a 32%, sendo esse o motivo principal para a utilização deste produto, uma vez que nessa proporção de proteína bruta, se torna um forte substituto ao farelo de soja (que possui cerca de 46% de proteína bruta).

De acordo com pesquisas, em inclusões superiores a 20% da dieta total, o DDG também pode ser considerado como fonte de energia, sobretudo quando o milho é trocado por ele. Essa troca pode se justificar devido aos níveis de nutrientes digestíveis totais (NDT) presentes no DDG, que são em torno de 90%.

Ao que diz respeito sobre proteína não degradável no rúmen (PNDR), no DDG pode ser 2,6 vezes maior ao se comparar com níveis encontrados no farelo de soja. Cerca de 60 a 70% da proteína bruta do DDG é proteína não degradável no rúmen. Desta forma, aumentará a disponibilidade de aminoácidos para absorção no trato gastrintestinal dos animais, mais especificamente no duodeno.

Algumas considerações que devem ser feitas a respeito da utilização do DDG nas dietas dos animais são:

  • Os coprodutos da indústria de etanol apresentam elevadas quantidades de enxofre, assim como de outros minerais. Isso acontece porque ao retirar o amido do milho para produzir etanol, todos os outros componentes nutricionais se concentram na sobra do grão. O excesso de enxofre costuma ser um ponto de alerta, porque em excesso, pode reduzir o consumo de matéria seca, prejudicar a absorção de cobre e em casos extremos, pode provocar uma intoxicação no animal.
  • Ao se tratar das proteínas presentes nos coprodutos convencionais, são basicamente compostas por proteínas presentes no gérmen do milho e pelas células de leveduras, que são adicionadas no processo de fermentação. As proteínas normalmente são de boa qualidade, exceto quando o DDG é queimado no processo de secagem.
  • Apesar dos coprodutos da indústria de etanol apresentarem uma alta quantidade de fibra, eles não devem ser utilizados como possíveis substitutos de volumoso. A fibra presente apresenta pouca efetividade no rúmen por ser altamente digestível.
  • Devido o DDG ser um produto pobre em amido e rico em fibra, ele é um ótimo produto para reduzir a acidose ruminal.

Portanto, um dos desafios para o uso de DDG na alimentação animal é determinar o teor de nutrientes e os níveis de substituição do coproduto, os quais apresentam grande variação, devido ao processamento, matéria-prima, quantidade de solúveis incorporados, entre outros fatores. Por este motivo recomenda-se a análise bromatológica de todo material que será utilizado, já que os resultados contido em literatura e em resultados obtidos em outras partidas de DDG podem não representar o material utilizado.

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