Blog Boviplan

Em setembro, tivemos a boa notícia da aprovação, por parte da China, de 25 plantas frigoríficas que passaram a ser consideradas aptas para exportação de carne vermelha para aquele país. Isso é excelente! O Brasil precisa aproveitar as oportunidades que se apresentam pelo mundo afora para vender mais. Temos a melhor e mais barata carne vermelha do planeta. A oportunidade que se apresentou, neste caso, foi o aparecimento da peste suína africana, que dizimou milhares de cabeças de suínos na China e em outros países asiáticos.

A China não é grande consumidora de carne vermelha, quando consideramos o consumo per capita. Mas a tendência é que esse consumo aumente em função da redução do consumo de carne suína. Esta é a nossa chance. Além da China, a Indonésia também liberou, no final de agosto, a importação de carne vermelha do Brasil. Trata-se de um enorme mercado que o Brasil conquistou!

A exportação de carne bovina e seus derivados é um negócio altamente rentável para o País. Apesar de campanhas difamatórias e do aumento (incipiente, diga-se de passagem) dos adeptos ao veganismo, o consumo de carne vermelha no mundo ainda vai aumentar muito, principalmente se a economia mundial permitir.

No quadro Preços do Boi Gordo no Mundo, podemos observar os valores da arroba do boi gordo, em dólares americanos, nos quatro principais países exportadores mundiais, no período compreendido entre os dias 16 de agosto e 13 de setembro de 2019.

O valor da arroba em dólares americanos dos principais países exportadores sofreu uma queda média de 5,66% no período analisado, entre os dias 16 de agosto e 13 de setembro de 2019. Essa queda foi verificada nos quatro países avaliados. A maior queda nesse valor foi observada na Argentina, onde a arroba passou de US$ 40,52 para US$ 36,12 (-10,85%). Nos demais países, as quedas foram de 4,54% (Brasil), 2,91% (Austrália) e 5,61% (Estados Unidos). Com isso, a diferença de valor na arrobado boi gordo para Brasil e Argentina, que foi de US$ 0,32 no período anterior, passou, agora, para US$ 2,26, sendo que, depois de um longo período, a arroba na Argentina ficou mais barata que no Brasil. Isso torna a carne portenha mais competitiva que a nossa no mercado internacional. Como mencionado na coluna anterior, a situação política e econômica na Argentina causa grande instabilidade no mercado interno, com sérios reflexos em toda a cadeia da carne naquele país. Melhoras neste quadro só depois das eleições (será mesmo?).

Diferentemente do ocorrido no período anterior, o valor da arroba na Austrália e nos Estados Unidos também recuou. Na Austrália, esse valor passou de US$ 58,20 para US$ 56,50 (baixa de 2,91%), e, no país norte-americano, de US$ 60,53 para US$ 57,14 (forte baixa de 5,61%). A média da arroba no período anterior foi de US$ 49,86, e, agora, essa média caiu para US$ 47,04, com recuo de US$ 2,82 por arroba.

O gráfico da Evolução do preço da arroba do boi gordo por unidade da Federação apresenta a variação de preços da arroba em nove das principais praças pecuárias do Brasil, pesquisadas entre os dias 16/08 e 13/09/2019. Mais um período com o valor da arroba do boi gordo com tendência de estabilização. A alta foi um pouquinho maior do que no período anterior, mas, mesmo assim, bem baixa. Anteriormente, a média observada nos nove estados avaliados foi de R$ 147,91. No período atual, essa média foi de R$ 148,38, com alta de 0,32%. Previmos que haveria uma pequena alta nesse período, o que não se verificou. A tendência é de que isso ocorra em outubro, correndo o risco de errar novamente… No entanto, o cenário é de normalidade.

A média do valor da arroba do boi gordo a prazo foi puxada para baixo pelos estados do Sul do Brasil. A queda média de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul foi de 2%, enquanto que a valorização média dos demais estados foi de 1,54%. A avaliação por estados nos mostra que a maior valorização ocorreu no Mato Grosso do Sul (2,22%), seguido por São Paulo (1,67%), Goiás (1,64%), Pará (1,45%), Minas Gerais (1,36%), Mato Grosso (0,92%) e Paraná (0,26%). As desvalorizações da arroba no período ficaram por conta de Santa Catarina (0,17%) e, de maneira bem mais acentuada, do Rio Grande do Sul, com baixa de 5,85%.

O cenário geral da cadeia interna da carne não se modificou muito em relação ao período anterior. Nada de chuva, excesso de queimadas, falta de pasto, baixo poder de compra do consumidor, etc.. No entanto, a baixa oferta de animais vem mantendo o mercado mais firme. Além disso, as boas perspectivas no mercado internacional também colaboram para manter a situação controlada.

O gráfico Média do preço da desmama mostra o preço médio pago pelo macho Nelore desmamado de 180 kg, praticado no período compreendido entre os dias 16/08 e 13/09/2019.

Da mesma forma que no período anteriormente analisado, a média de preços da desmama – macho Nelore, oito meses, 180 kg – caiu, desta vez em 0,77%, passando de R$ 1.271,41 para R$ 1.261,67. A queda foi menor do que a anterior (1,51%), mas manteve a tendência de desvalorização da categoria. Como os criadores não têm pastos em boas condições nesta época do ano – resultado, muitas vezes, da falta de planejamento e de investimento –, a necessidade de desovara produção é grande, fazendo com que aumente a oferta de bezerros com consequente queda nos preços. Neste ano, esse cenário está agravado pela longa estiagem que se verifica em quase todas as regiões produtoras do País. Os produtores que anteviram a situação e se prepararam adequadamente não estão sofrendo com essas condições adversas. Planejamento e gestão são tudo que um bom negócio precisa.

Os estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Pará apresentaram altas nos valores da desmama. O resultado observado foi o seguinte: 2,85%, 10,55%, 0,23% e 2,38%, respectivamente. O destaque ficou por conta dos mineiros, com uma valorização acentuada, bem acima dos demais. Por outro lado, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul apresentaram quedas no valor dessa categoria – de 6,48%, 11,36%, 2,22% e 1,79%, respectivamente. Aqueda mais acentuada e fora da curva foi no Mato Grosso do Sul.

O último gráfico, Relação de troca média, apresenta as relações de troca do bezerro macho desmama do e do boi magro com o boi gordo, no período de 16/08 a 13/09/2019.

A tendência do período para essa análise (relação de troca) foi de estabilidade. A relação de troca desmama:boigordo subiu 1,29%, passando de 1,87:1 para 1,89:1. O poder de compra de um boi gordo continua praticamente o mesmo, como pode ser concluído pelas análises que fizemos anteriormente. Houve uma pequena queda no preço do bezerro e uma pequena alta no preço da arroba do boi gordo.

Na comparação estado por estado, a relação de troca desmama:boigordo caiu em quatro deles (São Paulo, Minas Gerais, Pará e Rio Grande do Sul) e subiu nos outros quatro (Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná).

Quando analisamos a relação de troca boimagro:boigordo, a estabilidade fica ainda mais evidente: a relação de troca que era de 1,23:1 se manteve exatamente no mesmo patamar nesse período. No estado do Rio Grande do Sul, a queda foi a mais acentuada, com recuo de 3,82% na taxa. Por outro lado, Mato Grosso do Sul apresentou alta de 4,15%. Nos demais estados, a relação de troca dessa categoria se comportou assim: São Paulo, alta de 0,11%; Minas Gerais, baixa de 0,31%; Goiás, alta de 1,24%; Mato Grosso, baixa de 1,41%; Pará, alta de 0,02%; e Paraná, alta de 0,53%.

Como era previsível, a condução política da questão das queimadas na Amazônia não foi adequada para um país que depende da sua imagem para conquistar mercados internacionais para seus produtos oriundos do agronegócio. O governo brasileiro dá a oportunidade para que os representantes dos países concorrentes aos produtos do Brasil pressionem os nossos produtores, usando a questão ambiental como pano de fundo. O que eles querem, na verdade, é diminuir o nosso poder de concorrência, uma vez que esses produtos são bem mais baratos que os deles. Queimadas sempre existiram nesta época do ano. Infelizmente, isso é uma questão climática. O que precisamos fazer é conscientizar as pessoas sobre o assunto para evitar incêndios acidentais e não naturais. Caso existam incêndios criminosos, aí, sim: cadeia neles!

Autor: Antony Sewell, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.
Matéria publicada na Revista AG – Edição de Outubro de 2019