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Estamos vivenciando mais um período de estabilidade no valor da arroba do boi gordo, com tendências de alta. Existe um movimento, extremamente positivo na sua essência, no sentido de pressionar os frigoríficos a aumentar o valor a ser pago pela carne, por parte dos pecuaristas. Já não é sem tempo! A união dos produtores se faz necessária, e a indústria é sensível a isso, desde que o movimento seja organizado e com claros objetivos.

Na ocasião do fechamento desta coluna, o boi está cotado a R$ 200,00 a arroba, à vista, como preço de referência no estado de São Paulo, de acordo com a Scot Consultoria. O mercado futuro, por sua vez, sinaliza preços em torno de R$ 210,00 a arroba para o mês de outubro de 2020. Esses preços demonstram que o mercado anda favorável à produção, o que deve ser muito bem aproveitado pelos produtores. No mercado externo, o cenário se mantém o mesmo dos últimos meses. As exportações seguem em alta, com novos compradores, como o Kuwait, que, agora, passa a ser mais um parceiro comercial no segmento de carnes vermelhas. O país foi visitado, no ano passado, em missão oficial do governo brasileiro, representado pela ministra da Agricultura (Mapa), Tereza Cristina. A abertura de novos mercados faz parte da política de sucesso adotada pelo ministério no sentido de expandir as vendas da carne bovina brasileira. Parabéns a ela!

Ainda segundo a Scot Consultoria, na contramão do que foi dito anteriormente, as exportações de bovinos vivos apresentaram uma retração em relação a dezembro de 2019 (menos 3,83%), passando de 23,5 mil cabeças para 22,6 mil cabeças. Os principais destinos dessa mercadoria, em janeiro, foram Iraque (29,5%), Turquia (29,0%) e Egito (20,8%). Os principais estados exportadores de bovinos vivos foram o RS e o PR, com 40,4% e 29,9% do mercado, respectivamente. A China continua sendo o maior comprador de carne vermelha do Brasil, apesar de todos os problemas de saúde que, infelizmente, assolam aquele país.

No quadro Preços do Boi Gordo no Mundo, observamos os valores da arroba do boi gordo, em dólares americanos, em quatro dos principais países exportadores de carne vermelha no mundo, no período compreendido entre 16/01 e 14/02/2020. Foi verificada uma nova queda no valor da arroba nos países apresentados no gráfico, em dólares americanos: 3,13%, contra 2,24% no período anterior. Desta vez o grande responsável por esse resultado foi o Brasil, cuja arroba no mercado internacional caiu de US$ 50,29 para os atuais US$ 45,90 (queda de 8,73%). Isso se justifica pela forte alta do dólar frente ao real ocorrida no período.

Na Argentina e na Austrália, o valor da arroba praticamente não se alterou: queda de 0,41% e alta de 0,99%, respectivamente. Passado o problema com os incêndios na Austrália, houve uma estabilização naquele país, e o valor da arroba tende a voltar aos patamares anteriores. Ao contrário dos demais países, os Estados Unidos apresentaram forte alta de 5,02%, passando de US$ 61,71 para US$ 64,81 por arroba comercializada.

No atual período, a diferença de valor da arroba do boi gordo entre Brasil e Argentina, em termos percentuais, caiu (de 33,50% para 22,36%). Embora o valor da arroba na Argentina continue bem mais baixo do que no Brasil, a redução na diferença tende a facilitar a comercialização do produto brasileiro no exterior.

O gráfico da Evolução do preço da arroba do boi gordo por unidade da Federação apresenta a variação de preços da arroba em nove das principais praças pecuárias do Brasil, pesquisadas entre os dias 16/01 e 14/02/2020. O período foi de estabilidade de preços. Após os saltos do final de 2019, o valor da arroba permaneceu mais ou menos constante, com pequena queda no meio do período analisado e recuperação ao final. A média dos nove estados avaliados para o período foi de R$ 185,11 por arroba. A queda observada para o período anterior, que incluiu a alta fora da curva do final do ano passado, foi de 4,99%. Apesar da queda, o valor da arroba realmente mudou de patamar, como comentado na coluna anterior.

O valor da arroba do boi gordo a prazo caiu em todos os estados avaliados. A desvalorização média foi de R$ 9,72, sendo que o estado onde ocorreu a maior baixa foi Mato Grosso do Sul, onde o valor passou de R$ 191,14 para R$ 178,76, queda de 6,48%. Nos demais estados, a situação ficou a seguinte: quedas de 6,43% em São Paulo, de 4,98% em Minas Gerais, de 5,63% em Goiás, de 4,40% no Mato Grosso, de 5,95% no Paraná, de 5,56% em Santa Catarina e de 0,57% no Rio Grande do Sul, praticamente estável. Estamos vivendo um período de normalidade, com viés de otimismo. Após a turbulência do final de novembro, os preços estão se comportando bem. Como visto anteriormente, a sinalização para o final deste ano é positiva. O pecuarista deve aproveitar o cenário e investir na produção. É hora de crescer!

O gráfico Média do preço da desmama mostra o preço médio pago pelo macho Nelore desmamado de 180 kg, praticado no período compreendido entre 16/01 e 14/02/2020. A média de preços da desmama – macho Nelore, oito meses, 180 kg – manteve-se praticamente estável no período ora analisado quando comparado com o período imediatamente anterior. A valorização foi de apenas 0,37%, passando de R$ 1.495,70 para R$ 1.501,19.

Apesar da queda no valor da arroba do boi gordo, os preços da reposição não se alteraram. Como consequência, a relação de troca dessa categoria caiu, reduzindo o poder de compra do invernista. Apesar da média ter sido praticamente a mesma, ocorreu uma variação de preços muito desigual de estado para estado, com valorização de R$ 88,68 por cabeça para o RS e desvalorização de R$ 52,84 para GO. O cenário de preços, estado por estado, ficou assim: SP, alta de 1,69% (R$ 1.577,27 por cabeça); MG, alta de 2,30% (R$ 1.413,64); GO, queda de 3,08% (R$ 1.665,00); MS, alta de 1,27% (R$ 1.503,18); MT, queda de 1,91% (R$ 1.456,82); PA, queda de 1,91% (R$ 1.404,55); PR, queda de 0,82% (R$ 1.551,82); e RS, alta de 6,58% (R$1.437,27).

O gráfico da Relação de troca média apresenta as relações de troca do bezerro macho desmamado e do boi magro com o boi gordo, entre 16/01 e 14/02/2020. A relação de troca entre desmama e boi gordo, ao contrário do que ocorreu no período anterior, desfavoreceu os invernistas. A média da relação de troca dessa categoria ficou em 1,95 (contra 2,08:1 do período anterior), voltando aos patamares de outubro de 2019. Como visto anteriormente, a causa disso foi a desvalorização da arroba, e não a valorização do bezerro. Na comparação entre os estados avaliados, a relação só não caiu no Paraná, onde passou de 1,89:1 para 1,90:1. Nos demais estados, a situação é a seguinte: SP, 1,97:1; MG, 2,10:1; GO, 1,75:1; MS, 1,90:1; MT,1,93:1; PA, 2,00:1; e RS, 2,07:1.

Na categoria boi magro, a situação é exatamente a mesma. A relação de troca média em todas as praças avaliadas passou de 1,31:1 para 1,22:1 (ou seja, a queda no valor da arroba do boi gordo também influenciou a compra de bois magros, que se valorizaram na troca). Essa relação, a exemplo da anterior, só não caiu no PR, diferente dos demais.

O pecuarista tem em mãos todas as ferramentas para aumentar a rentabilidade do seu negócio. A informação nos tempos atuais é muito importante. Colher dados de produção, analisá-los de forma objetiva e colocar em prática o conhecimento advindo desses procedimentos é fundamental para a obtenção do resultado positivo. O conhecimento técnico é muito importante, mas as ações de gestão não podem ser esquecidas. Sucesso a todos!

Autor: Antony Sewell, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.
Matéria publicada na Revista AG – Edição Março – 2020