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A preocupação com a chegada do novo coronavírus (Covid-19) nos países da América do Sul fez o preço do farelo de soja disparar no mercado chinês, por conta de uma expectativa de falta desse importante alimento na produção chinesa de animais, em especial, de suínos e frangos.

Apesar de a Embrapa noticiar, recentemente, que o maior desafio do pecuarista nacional é a baixa fertilidade do solo, o que está tirando o sossego dos produtores são as recentes notícias relacionadas ao fechamento de algumas plantas ou de férias coletivas em frigoríficos como JBS, Marfrig e Minerva. Essas ações foram motivadas pela expectativa do setor em relação à ampliação da Covid-19 no País. Enquanto isso, nos Estados Unidos, as plantas do JBS trabalham em plena carga, apesar da Covid-19 estar em estado mais avançado naquele país.

Por outro lado, a redução de casos da Covid19 na China anima o setor exportador brasileiro, que espera, para o ano de 2020, uma retomada nos embarques de carnes para aquele país, que consumiu 26,7% da carne exportada pelo Brasil em 2019, um salto de 80% no faturamento e 53% no volume, quando comparado ao ano de 2018. Apesar de menos otimista que no final do ano passado, a expectativa é de que o volume exportado de carne bovina, neste ano, seja ainda maior do que 2019 em torno de 10%.

Mas não é só o Brasil que está otimista. Segundo o USDA, em breve, novas plantas norte-americanas estarão livres para exportar carnes de bovinos, suínos e aves para a China. Em fevereiro, já ocorreram outras liberações nesse sentido. Todas fazem parte de um acordo assinado entre os dois países em janeiro de 2020.

No quadro Boi Gordo no Mundo, podemos observar os valores da arroba do boi gordo, em dólares americanos, nos quatro principais países exportadores mundiais, no período compreendido entre 17/02 e 13/03/2020.

Diferentemente da avaliação do mês passado, na qual houve queda no valor da arroba nos países avaliados, observamos aumento do preço na Austrália, estabilidade na Argentina e queda no Brasil e nos EUA. Portanto, o destaque, desta vez, foi a Austrália, que teve percentual de aumento de 6%.

Apesar do aumento do valor do dólar frente ao Real, observou-se redução de 3% no preço em dólar pago na arroba brasileira, a maior queda entre os países avaliados no quadro. Ainda assim, a carne brasileira está 19% mais cara do que a argentina, que é a mais barata entre as avaliadas. Mas a arroba de carne brasileira é 36% mais barata que a do nosso principal competidor, os EUA.

O gráfico Evolução do preço da arroba do boi gordo por UF (Unidade da Federação) apresenta a variação de preços da arroba em nove das principais praças pecuárias do Brasil, pesquisadas entre os dias 17/02 e 13/03/2020.

No mês passado, era apontada uma estabilidade de preços. Mas, com as recentes alterações no mercado, é possível observar que houve instabilidade de preços para a maioria dos estados avaliados. As quedas no período foram identificadas em GO e no RS, sendo este com maior queda (5,84%). As altas ocorreram em MS, SC e PR, sendo este onde ocorreu a maior alta (1,58%). São Paulo e MG tiveram relativa estabilidade no período.

É possível observar uma leve queda na média entre os estados avaliados, o que vai de encontro com a atual queda de braço entre frigoríficos e pecuaristas motivada pelo coronavírus. Resta saber o que falará mais alto: a proximidade do final do período chuvoso e o início de seca nas principais regiões produtoras do País – com natural maior oferta de animais acabados a pasto e redução no poder de barganha do pecuarista –, ou a retomada de importações da China, que pressionará os frigoríficos a pagarem preços mais altos pela arroba do boi.

O gráfico Média do preço da desmama mostra o preço médio pago pelo macho Nelore desmamado de 180 kg, praticado no período compreendido entre 17/02 e 13/03/2020.

A média de preços da desmama – macho Nelore, oito meses, 180 kg – subiu 8,42% quando comparado com o período imediatamente anterior. O médio valor pago por cabeça foi de R$ 1.501,19 para R$ 1.627,50. O destaque ficou com São Paulo (+21%), onde o preço no período avaliado subiu de R$ 1.650,00 para R$ 2.000,00. O segundo lugar em elevação de preço foi o Mato Grosso, onde a alta foi de 9,68% e o preço da desmama, que iniciou o período de avaliação em R$ 1.550,00, fechou em R$ 1.700,00 por cabeça.

Quase todos os estados tiveram alta no período, porém GO apresentou estabilidade no preço nessa categoria, diferentemente do período anterior, no qual tinha obtido a maior queda (3,08%) entre os avaliados. Já o RS, assim como ocorreu com o preço da arroba do boi gordo, teve queda de 4,26% no período, o que equivale a uma desvalorização de R$ 60,00 por cabeça. Curiosamente, no período anterior, o estado registrou a maior valorização (R$ 88,00) por cabeça.

O gráfico Relação de troca média apresenta as relações de troca do bezerro macho desmamado e do boi magro com o boi gordo, no período de 17/02 a 13/03/2020.

A relação de troca média entre desmama e boi gordo ficou praticamente estável entre o período atual de avaliação e o mês passado, mudando de 1,95 para 1,94, ou seja, obtendo resultado equivalente aos patamares de outubro de 2019. O melhor resultado foi o do RS (2,16) mesmo com a queda da arroba do boi gordo no período. O que mais puxou para baixo a média foi o desempenho dos estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás, com destaque para esse último, que teve a pior relação de troca (1,80).

Na categoria boi magro, a situação também teve relativa estabilidade, saindo de 1,22 para 1,23. O destaque ficou para MG, que obteve a melhor relação de troca (1,31). O pior resultado para a relação de troca entre o boi magro e o boi gordo também foi o de GO, com 1,13, apesar de ter melhorado um pouco em relação ao mês anterior, quando o resultado foi de 1,10. São Paulo ficou logo atrás, com resultado de 1,16, mas piorando em relação ao mês anterior (1,20).

Neste momento, o setor é desafiado por uma nova questão de saúde, mas, diferentemente da peste suína, temos uma pandemia. O desafio é ter cautela ou, como dizem os analistas, sangue frio. Enquanto a população sofre com o isolamento forçado, o agro não para. Mas, para que o produtor não derrape no caminho, é preciso produzir com boas margens. Está claro que, cada vez mais, a informação se torna fundamental também para a saúde da gestão agropecuária. Produtor saudável é aquele que também é bem informado.

Autor: Rodrigo Paniago, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.
Matéria publicada na Revista AG – Edição Abril – 2020