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Estamos atravessando (ainda) um período crítico na nossa economia. O governo tem tentado medidas que possam amenizar esse quadro, porém ainda sem o sucesso que todos esperam. Mas os setores agrícola e pecuário não podem ficar parados (e não estão!). Sempre crescendo, a agropecuária brasileira precisa, mais do que nunca, de seus produtores, e estes necessitam, mais do que nunca, de gestões profissionais e ideias positivas, que tragam a tranquilidade para continuar produzindo.

A gestão dos custos é uma das formas mais garantidas de se alcançar os melhores resultados. Em épocas de crise, precisamos controlar gastos e reduzir desperdícios. Já foi o tempo em que produzir carne não exigia qualquer tipo de conta: bastava deixar o animal no pasto e ir descansar. Hoje, não podemos nos dar a esse luxo. Gestão e planejamento são palavras-chave para este momento.

O quadro Preços do Boi Gordo no Mundo apresenta os valores em dólares americanos da arroba do boi gordo nos quatro principais países exportadores mundiais, no período de 16 de julho a 15 de agosto de 2019.

Nesse período, os valores da arroba do boi gordo de Brasil e Argentina praticamente empataram. No Brasil, a queda foi de 1,57% – de US$ 40,85 para US$ 40,20–, enquanto, no país vizinho, a arroba passou de US$ 42,84 para US$ 40,52, queda acentuada de 5,42%. A diferença, que era de US$ 1,99 por arroba, caiu para apenas US$ 0,32. Com isso, a competitividade da carne brasileira no mercado internacional caiu, favorecendo o produto argentino. Isso aconteceu, em grande parte, em função da crise pela qual passa a Argentina, com indefinições políticas e economia capengante. A iminente volta do populismo por lá em nada favorece toda essa situação.

Brasil e Argentina recuaram, mas Austrália e Estados Unidos não. A alta verificada no país oceânico foi de 5,32%, fazendo com que o produto daquele país se aproximasse, em dólares, da carne exportada pelos americanos. Nos Estados Unidos, o quadro foi de relativa estabilidade, com alta de apenas 0,56%.

Em termos gerais, houve um pequeno aumento (0,14%) na média da arroba praticada no mercado internacional, considerando apenas esses quatro países. No período anterior, a média da arroba foi de US$ 49,79 e, agora, US$ 49,86.

O gráfico da Evolução do preço da arroba do boi gordo por unidade da Federação mostra a variação de preços da arroba nas principais praças pecuárias do Brasil, pesquisadas no período compreendido entre os dias 16/07 e 15/08/2019.

Nesse período, a tendência foi de estabilização do valor da arroba, com alta de apenas 0,09%, quando analisamos os nove principais estados produtores no País. O valor passou de R$ 147,77 para R$ 147,91.

Na coluna de julho, o valor observado foi de R$ 146,56 por arroba, o que mostra uma baixa valorização nesses meses de entressafra. A tendência é de que haja uma alta para o próximo período, mas ainda muito pequena. A situação é de normalidade… Quando analisamos estado por estado, a situação do período foi a seguinte: altas de 0,98% em Minas Gerais, de 0,40% no Mato Grosso do Sul, de 1,43% no Pará, de 1,00% no Paraná e de 0,10% em Santa Catarina. Já os estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Rio Grande do Sul apresentaram baixas de 0,99%, 0,04%, 0,49% e 1,33%, respectivamente.

O período de estiagem, que está se prolongando, principalmente na região central do Brasil, colabora com esse cenário, uma vez que a falta de pasto obriga o produtor a comercializar os animais. Maior oferta, menor o preço. A situação econômica do País, por outro lado, não favorece o consumo. Dessa forma, o mercado patina, e os frigoríficos apresentam escalas confortáveis. Essa situação poderá mudar um pouco no curto prazo, mas, quando os animais de confinamento estiverem prontos para o abate, em meados de outubro, na sua maioria, poderemos ter, novamente, uma situação de estabilidade de preços. A torcida é pela recuperação do poder de compra e pelo aumento da exportação.

No gráfico Média do preço da desmama, podemos observar o preço médio pago pelo macho Nelore desmamado de 180 kg, no período de 16/07 a 15/08/2019.

Mantendo a tendência de baixa do período anterior, a média de preços dessa categoria caiu em seis dos oito estados avaliados. Assim, a média do período anterior, que foi de R$1.290,86, passou, agora, para R$1.271,41, apresentando queda de 1,51%. Mais uma vez, a causa mais provável desse cenário são as faltas de chuvas e de pasto, obrigando o criador a vender os seus produtos com mais pressa. Por outro lado, os invernistas também não têm pasto sem condições de receberem o gado para recria. Aqueles pecuaristas que se prepararam para essa situação não sofreram essas consequências. Todos os meses, esta coluna procura alertar sobre a necessidade de um bom planejamento, de uma boa gestão e de controles de produção bastante criteriosos. Não é à toa…

À exceção dos estados de Mato Grosso e Pará, os demais apresentaram queda nos valores da desmama. A situação, em termos percentuais, ficou a seguinte: quedas de 2,88% em São Paulo, de 3,55% em Minas Gerais, de 0,72% em Goiás, de 3,01% no Mato Grosso do Sul, de 3,56% no Paraná e de 0,88% no Rio Grande do Sul. No Mato Grosso e no Pará, as altas foram de 2,33% e de 0,25%, respectivamente.

No gráfico Relação de troca média, são mostradas as relações de troca do bezerro macho desmamado e do boi magro com o boi gordo, no período de 16/07 a 15/08/2019.

A relação de troca, nesse período, pendeu para o lado do invernista, assim como quando avaliamos a categoria de desmama como a do boi magro. Houve queda no preço do bezerro, como mostrado anteriormente, e o pecuarista conseguiu comprar um pouco mais de reposição com a venda de um boi gordo. Analisando o gráfico e comparando com o período anterior, observamos que a relação de troca subiu em seis dos estados avaliados e caiu em apenas dois deles para a categoria de desmama. Para o boi magro, a situação foi praticamente a mesma, subindo em cinco estados e caindo em três. Como se viu ao longo deste artigo, a situação se inverteu ligeiramente, melhorando um pouco para o invernista.

Os mesmos estados onde a relação de troca bezerro:boi gordo subiu no período anterior também apresentaram altas neste: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul. No Mato Grosso e no Pará, essa relação caiu. A relação de troca média para essa categoria subiu de 1,84 para 1,87 na comparação dos dois períodos (alta de 1,68%). Entre boi magro e boi gordo, a relação de troca passou de 1,22 para 1,23, com ligeira alta de 1,18%. Os estados que apresentaram baixa no índice foram Goiás, Mato Grosso e Pará.

Pouco mudou o quadro político no nosso País nesse último mês. A questão ambiental, como já foi comentado na coluna anterior, pode vir a ser um entrave para a comercialização dos produtos de origem agrícola e pecuária, uma vez que as barreiras impostas pelos países importadores são, todas elas, de ordem política. A qualidade do produto brasileiro é inquestionável; assim, temos de enfrentar todas as tentativas que fazem para desmoralizar o nosso setor. O Brasil é, de longe, o mais importante fornecedor de produtos agropecuários no mundo, e isso causa problemas para os demais países. O governo brasileiro precisa estar atento a isso, e o produtor deve focar em uma gestão que torne esses produtos melhores ainda.

Autor: Antony Sewell, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária
Matéria publicada na Revista AG – Edição de Setembro de 2019