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As exportações brasileiras de carne vermelha continuam em alta, batendo recordes seguidos. Para que o Brasil continue a aumentar a sua participação nos mercados internacionais é necessário que a cadeia da carne interna esteja bem organizada. E é a isso que estamos assistindo. Para sairmos bem do isolamento, precisaremos estar atentos aos sinais que recebemos agora, tanto do mercado internacional quanto do mercado interno.

No quadro a seguir, Preços do Boi Gordo no Mundo, temos os valores da arroba do boi gordo, em dólares americanos, em quatro dos principais países exportadores no mercado internacional, no período compreendido entre os dias 18 de maio e 15 de junho de 2020.

No período compreendido entre os dias 18 de maio e 15 de junho de 2020, houve uma valorização significativa da arroba do boi gordo no mercado internacional. A média foi de 3,93% de valorização quando comparada ao período anterior. Esta média só não foi maior devido à forte desvalorização do produto ocorrida na Austrália, país dissonante no comportamento deste produto no mercado. No país dos cangurus, a arroba do boi gordo foi exportada a US$ 53,79, com queda de 8,78%. O resultado para o período reverte a perda ocorrida anteriormente, que foi de 9,8%. A valorização do produto brasileiro no mercado internacional foi de 7,14%, puxado pela valorização do real em relação ao dólar americano, ocorrida ao longo dos últimos 30 dias de avaliação.

A maior valorização observada, desta vez, foi na carne argentina, ao compararmos o atual período avaliado com o anterior (9,28%). Por lá, a exportação da carne rendeu US$ 38,40 no dia 15 de junho (média de US$ 34,44). O Brasil fechou o período vendendo a arroba de carne a US$ 39,42 (média de US$ 37,13). Assim, a tendência de final de período foi uma maior valorização da arroba brasileira quando comparada à argentina. Nos Estados Unidos, por outro lado, a arroba foi negociada a US$ 60,60 no dia 15 de junho (valorização de 8,08% e média de US$ 56,96).

O valor da carne brasileira no mercado internacional fechou o período em 65,05% do preço da carne americana, reduzindo um pouco a diferença obtida no período anterior, que foi de 60,73%. Com este resultado, o Brasil permanece como um país exportador altamente vantajoso para o mercado externo.

O gráfico Evolução do preço da arroba do boi gordo por UF (Unidade da Federação) apresenta a variação de preços da arroba a prazo em nove dos principais estados produtores de carne do país. O período avaliado leva em conta os valores apurados entre os dias 18/05 e 15/06/20.

O mercado interno brasileiro vem se recuperando muito bem e, neste último mês, viu a valorização da arroba do boi gordo saltar 1,68%, passando de R$ 182,62 para R$ 185,69, na média das nove principais praças produtoras do país. Os valores de referência para a arroba do boi gordo a prazo voltaram aos patamares anteriores à Covid-19, fechando o período cotados a R$ 204,00. A média no estado de São Paulo no período analisado foi de R$ 195,58, apresentando uma variação positiva em relação ao período anterior de 1,05%. Este cenário é resultado da falta de boiada pronta para o abate. Os frigoríficos têm encontrado dificuldades em adquirir o produto junto aos pecuaristas, o que faz com que o preço naturalmente se eleve. Ainda estamos vivendo dias de expectativa quanto ao retorno à normalidade, ou ao considerado “novo normal”

Todos os estados avaliados apresentaram alta nos preços da arroba do boi gordo a prazo e, revertendo a situação do período anterior, o estado de Goiás foi onde o produto mais subiu: 3,80%. Em seguida, vieram os estados do Paraná (2,41%), Pará (2,15%), Minas Gerais (1,87%), Rio Grande do Sul (1,45%), Mato Grosso do Sul (1,41%), São Paulo (1,05%), Santa Catarina (0,97%) e Mato Grosso (0,08%).

Esta é a época para o pecuarista que se planejou adequadamente reter o seu boi no pasto. Seja em confinamento, seja a pasto com suplementação, é uma garantia de preços melhores para o seu produto. A redução da oferta faz com que as escalas na indústria sejam reduzidas, o que obriga os frigoríficos a oferecerem mais pela arroba. O mercado está firme, com viés de alta. Quem não se planejou, não tem pasto e nem comida, vende (ou já vendeu). Quem tem segura e garante preços melhores daqui para frente.

No gráfico Média do preço da desmama podemos observar a média dos preços pagos pelo macho Nelore desmamado de 180 kg, praticado em oito das principais praças produtoras do Brasil, pesquisados entre os dias 18/05 e 15/06/20.

A categoria de desmama – macho Nelore com oito meses de idade e 180 kg de peso vivo – começou a reagir em praticamente todo o país. Em cinco dos oito estados pesquisados o preço subiu (1,86%). No período anterior a média geral foi de R$ 1.614,30 por cabeça; neste período, R$ 1.644,28. Estes números refletem a mudança no cenário da pecuária de corte no Brasil, com mercado aquecido. Os estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul apresentaram queda no valor da desmama, pelo segundo período consecutivo, da ordem de 3,36%, 0,21%, e 0,58%, respectivamente. Nos demais estados, foi observada uma valorização da categoria: Minas Gerais, 2,10%; Goiás, 4,37%; Mato Grosso do Sul, 3,39%; Mato Grosso, 2,79% e Pará, 7,37%. O bezerro em São Paulo, o mais valorizado do país, foi cotado, no período, a R$ 1.915,79, em média. O Estado do Rio Grande do Sul continua com o bezerro mais barato, agora, cotado a R$ 1.306,32.

Ainda temos um mercado incerto para a reposição, mas, ao escrever esta coluna, negócios a R$ 10,00 o quilo de peso vivo do bezerro já estavam acontecendo. Entendo que esta será a tendência, pelo menos, para os próximos meses. Assim espero… O importante é que os produtores tenham controle de sua produção. A informação é fundamental no sentido de garantir resultados, sem surpresas!

No último gráfico, Relação de Troca Média, temos as relações de troca do bezerro macho desmamado e do boi magro com o boi gordo, no período de 18/05 a 15/06/20.

A relação de troca entre desmama e boi gordo neste período caiu de 1:1,90 para 1:1,82, mostrando que a valorização média da desmama foi maior do que a valorização média da arroba do boi gordo. Assim, o invernista não conseguiu comprar a mesma quantidade de bezerros que vinha fazendo com a receita obtida na venda dos bois gordos. A relação de troca mais favorável ao invernista ocorre no Rio Grande do Sul, onde a taxa é de 1:2,25. O segundo estado onde esta relação é mais favorável é Minas Gerais (1:1,94), mostrando a disparidade entre os gaúchos e o resto do país neste quesito. Em todos os estados, a relação de troca piorou, à exceção de São Paulo, que permaneceu a mesma. Ao contrário do período anterior, no entanto, o Estado do Mato Grosso aparece como aquele em que esta relação é a menos favorável aos pecuaristas terminadores de bovinos: 1: 1,59.

Na categoria boi magro ocorreu o inverso: a relação de troca com o boi gordo subiu, ou seja, o invernista conseguiu comprar mais reposição do que no período anterior. A relação agora é de 1:1,20, contra uma taxa de 1:1,17 do período anterior (alta de 2,61%). A menor relação de troca nesta categoria foi novamente observada em São Paulo, onde a taxa ficou em 1:1,08 e a maior (1:1,30) no Estado de Minas Gerais. O índice subiu em seis estados (São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Pará, Paraná e Rio Grande do Sul). Permaneceu estável no Mato Grosso do Sul e só caiu no Mato Grosso.

O agronegócio está sustentando o país. Quanto tempo faz que ouvimos esta frase? E é a mais pura verdade! O país atravessa uma fase difícil, com a Covid-19 teimando em não ceder, os políticos teimando em não organizar a situação e até gafanhotos teimando em chegar por aqui… O Brasil vai sair dessa, como vão sair todos os países no mundo. Mas a que custo? A economia não vai bem, evidentemente, mas o nosso setor vai. E muito bem! Graças a políticas adequadas, decisões corretas e atitudes audaciosas, o agronegócio brasileiro não sai dos trilhos.

Devemos isso ao trabalho árduo e incessante dos produtores rurais, comandados pela excelente atuação de nossa ministra e equipe. Então, devemos continuar trabalhando, firmes e focados. Agora é a hora do principal investimento que uma unidade produtora pode fazer: gestão. Esta é a hora de termos na mão o nosso negócio. Sairemos disso tudo bem mais fortalecidos.

Autor: Antony Sewell, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.
Matéria publicada na Revista AG – Edição Julho – 2020