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Para a satisfação geral dos produtores, as palavras “firme”, “alta” e “subiu”, relacionadas ao preço da arroba do boi gordo, foram repetidas quase que diariamente durante todo o mês de outubro, até mesmo na segunda quinzena, quando, geralmente, ocorre menor consumo de carne. Tanto é verdade que, nos últimos 15 dias do mês, o mercado nacional observou uma quebra de recorde na pecuária de corte, com a arroba atingindo o valor de R$ 181,40 na B3, antiga Bovespa.

E pode melhorar! É a expectativa atual da maioria dos produtores e especialistas, não só para a carne bovina, mas para as demais opções de proteína também. No último mês, o volume embarcado de carne suína foi 29% maior do que o ano anterior, tanto que, em dólar, o valor acumulado do ano da carne suína in natura já corresponde a 93% do resultado obtido em 2018.

Não só o crescimento da China nas suas importações de proteína estaria aquecendo os preços no mercado brasileiro. Outra aposta que explicaria o otimismo em relação ao preço da arroba do boi gordo está na aproximação do final do ano, quando se espera um aumento no consumo interno. Mas o otimismo mesmo está com os produtores do Paraná, que comemoram o início do processo de retirada da vacinação contra a febre aftosa do rebanho bovino. O reconhecimento da OIE foi obtido somente por Santa Catarina até hoje.

A única derrapada do mês veio do estado do Tocantins, que resolveu antecipar o fim dos incentivos fiscais do ICMS a produtores e frigoríficos, causando imediata paralisação nos abates. Com a decisão, os pecuaristas, que estavam isentos do imposto, passariam apagar 12%, e os frigoríficos passariam de 1%para 7%. Contudo, o Tribunal de Justiça determinou a suspensão da portaria que retirava os incentivos. E, desde então, o governo estadual e os frigoríficos montaram uma comissão para discutir o assunto e preparar um documento sobre a legislação do setor de carnes. Aguardemos o próximo capítulo.

No quadro Preços do Boi Gordo no Mundo, podemos observar os valores da arroba do boi gordo, em dólares americanos, nos quatro principais países exportadores mundiais, no período compreendido entre os dias 16 de setembro e 15 de outubro de2019. Como ocorrido na avaliação do mês passado, quando se observou baixa no valor da arroba em todos os países avaliados, observamos queda de preço na Argentina, na Austrália e nos Estados Unidos. A exceção foi o Brasil, que teve alta de pouco mais de 1%. O destaque ficou novamente para a Argentina, que continua com o maior percentual de queda no mercado. Desta vez, com quase 13%, enquanto que, nos Estados Unidos, a queda não chegou a 7%. Na Austrália, o preço ficou praticamente estável, com ligeira tendência para recuo (0,45%).Com isso, a diferença de valor na arroba do boi gordo entre Brasil e Argentina, que foi de US$ 2,26 no período anterior, passou, agora, para US$ 7,42. Isso torna a carne portenha mais competitiva que a nossa no mercado internacional.

Portanto, a cotação atual continua quebrando a máxima de que “a carne brasileira é a mais barata do mercado”. Como mencionado nas duas colunas anteriores, a situação política e econômica na Argentina causa grande instabilidade no mercado interno, com sérios reflexos em toda a cadeia da carne naquele país.

O gráfico Evolução do preço da arroba do boi gordo por unidade da Federação apresenta a variação de preços da arroba em nove das principais praças pecuárias do Brasil, pesquisadas entre os dias 16/09 e 15/10/2019. No mês passado, apontávamos uma tendência de alta para outubro. O fato é que a pressão de alta para o período avaliado se manteve, atingindo uma média de 3,2% de elevação nos preços da arroba do boi gordo a prazo entre as praças avaliadas. O preço médio da arroba chegou em R$ 150,86.

Todos os estados tiveram melhora nos preços, apesar de, no Rio Grande do Sul, ter ocorrido uma baixa no meio do caminho. A avaliação por estados nos mostra que a maior valorização ocorreu no PR (4,6%), seguido por MS (4,5%), SC (4,4%), PA (3,8%), MT (2,6%), MG (2,5%), SP (2,5%), RS (2,0%) e GO (1,8%). O destaque ficou para o Paraná, que terminou o período com alta de R$ 7,00 no valor da arroba.

A pressão altista também sofre influenciada concentração da produção a pasto, já que o momento ainda é de final de seca, caracterizado pela baixa oferta de pastagens (quantidade e qualidade), que limita o desenvolvimento dos animais.

O gráfico Média do preço da desmama mostra o preço médio pago pelo macho Nelore desmamado de 180 kg, praticado no período compreendido entre os dias 16/09 e15/10/2019.

Diferente dos dois períodos anteriormente analisados, a média de preços da desmama–macho Nelore, oito meses, 180 kg – subiu. Desta vez, a alta foi de 2,1%, passando de R$ 1.273,75 para R$ 1.301,25. Assim como no caso da arroba, o preço para essa categoria também se mostrou firme durante o mês de outubro. Aparentemente, a “desova” ocorrida nos últimos meses por parte dos criadores, motivada pela baixa oferta de pastagens, característica do período, reduziu a oferta em algumas praças.

Concomitantemente, a expectativa positiva em relação à maior oferta de pastagens com a chegada das primeiras chuvas também fez aquecera demanda pela reposição. É a velha queda de braço entre demanda e oferta atuando sobre o preço dos produtos agropecuários.

Novamente, os estados de Minas Gerais e São Paulo apresentaram altas nos valores da desmama, cenário que contou com a contribuição de Goiás e Mato Grosso do Sul nesse último período. As valorizações atingiram 6,4% no Mato Grosso do Sul, 4,0% em Minas Gerais, 3,8% em São Paulo e 2,3% em Goiás. O destaque coube, mais uma vez, ao estado de Mato Grosso do Sul. Porém, ao contrário do período anterior – quando apresentou a maior queda –, desta vez, foi pela maior alta, registrando aumento de R$ 80,00 no preço por cabeça dentro do período avaliado.

O último gráfico, Relação de troca média, apresenta as relações de troca do bezerro macho desmamado e do boi magro com o boi gordo, no período de 16/09 a 15/10/2019. Como no mês anterior, a tendência do período para essa análise (relação de troca) foi de estabilidade, apesar das oscilações entre os estados avaliados. A relação de troca desmama:boigordo, que havia subido no mês passado em 1,29%, neste último período, manteve–se estável em 1,89:1. O poder de compra de um boi gordo continua praticamente o mesmo, apesar da elevação no preço da desmama, como pode ser concluído pelas análises que fizemos anteriormente. Na comparação estado por estado, a relação de troca desmama:boigordo caiu em três deles (GO, MS e RS) e subiu nos outros cinco (SP, MG, MG, PA e PR).

Quando analisamos a relação de troca boi magro:boi gordo, observamos uma ligeira melhora. Saiu de 1,23:1, resultado dos dois últimos períodos avaliados, para 1,24:1. Novamente, no RS, a queda foi amais acentuada, com recuo de 3,3% na taxa. Por outro lado, o Mato Grosso do Sul apresentou a maior alta, que foi de 4,0%. Nos demais estados, a relação de troca da categoria se comportou assim: SP obteve alta de 0,6%; MG, baixa de 0,8%; GO, alta de 0,65%; MG, baixa de 1,8%; PA, alta de 2,9%; e PR, queda de 1,5%.

Os defensores do planeta, que, agora, se calam diante do enorme desastre ambiental com o derramamento de óleo no mar do Nordeste brasileiro, passaram o último período incentivando retaliações à compra de produtos brasileiros com a justificativa de estarem preocupados com as queimadas na região amazônica. No entanto, ao que tudo indica, não tiveram suas “preces ouvidas” pelo setor importador de carnes, visto que as exportações do Brasil estão de vento em popa. A maior presença da carne brasileira se dá por conta da profissionalização dos setores, tanto de produção – como é o exemplo do PR, que deve se unir a SC como zona livre de febre aftosa sem vacinação – quanto de transformação, que consegue se adaptar às exigências sanitárias dos importadores.

Contudo, a tendência é que as barreiras não tarifárias, travestidas de preocupação com o meio ambiente, se avolumem e tragam maior dificuldade ao setor exportador, justamente pelo acirramento da concorrência internacional causado pelo Brasil. A cadeia da carne como um todo será cada vez mais exigida, cabendo, também, ao pecuarista assumir sua participação na modernização da bovinocultura praticada no País. Como é na área de gestão, na qual estão os maiores desafios para o produtor rural ganhar eficiência, manter-se bem informado a respeito do mercado é quase uma obrigação.

Autor: Rodrigo Paniago, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.
Matéria publicada na Revista AG – Edição de Novembro de 2019