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Teste de OPG, ainda pouco usado em fazendas de gado de corte, possibilita definir um protocolo de combate à verminose mais preciso, reduzindo custos.

A escolha aleatória e o uso indiscriminado de vermífugos para controle de verminoses podem ocasionar sérios prejuízos financeiros. O mais imediato e aparente é a perda de desempenho animal. Outro, mais sorrateiro, porém nem por isso menos danoso, é a seleção de parasitos resistentes. Neste caso, a eficácia do fármaco diminui à medida que a população de vermes sobrevivente ao medicamento se multiplica no sistema digestivo do bovino. De um jeito ou de outro, o produtor perde dinheiro. Para evitar que isso ocorra, o melhor a fazer é ser mais preciso no combate aos helmintos, o que significa conhecer quais parasitos estão infestando os animais, bem como saber se o vermífugo utilizado está sendo eficiente. A estratégia mais simples e barata de visualizar esse cenário é realizar periodicamente exames de OPG, teste que determina o número de ovos de vermes intestinais por grama de fezes do animal.

Coleta de fezes para exame de OPG é feita por um veterinário.

Comum em criatórios de ovinos, onde as verminoses são um problema constante, em razão do hábito de pastejo rente ao solo desses animais, os testes de OPG (ovos por grama) são raros em fazendas de gado de corte no Brasil. “Às vezes, é por desconhecimento. Outras, pelo hábito arraigado de se utilizar vermífugos sem qualquer embasamento técnico”, afirma André Aguiar, da Boviplan Consultoria Agropecuária, de Piracicaba, SP. Se não faltam explicações para a pouca adesão aos exames, também sobram justificativas para que entrem na rotina das propriedades. “Os testes de OPG podem apontar a ocorrência de surtos de verminose, a adequação do vermífugo ou a presença de resistência”, afirma Enrico Ortolani, professor da FMVZ-USP e colunista de DBO. Para o veterinário Felipe Walter, da Boviplan, além de ajudar a preservar a eficácia dos princípios ativos, os exames podem garantir economia na compra de medicamentos, dependendo da situação epidemiológica do plantel. “Propriedades fechadas, que realizam controle sanitário há vários anos, podem estar mais limpas e sem a necessidade de aplicação de vermífugos”, diz ele.

Mudança de protocolo

O produtor Rodrigo Liranço, da Fazenda Aruanã, em Três Lagoas, MS, combatia as verminoses de modo semelhante ao que se faz na maioria das propriedades do País, ou seja, sem critério técnico. Ao perceber que os bezerros, mesmo vermifugados, estavam “sentidos” (magros), decidiu investigar o que havia por trás desse fraco desempenho. “Verificamos a oferta de capim e a qualidade da água. Como não havia nada de errado com isso, decidimos fazer o teste de OPG. Descobrimos que muitos animais estavam com vermes e o nível de infestação era alto”, lembra. Foram coletadas fezes de dois lotes de bezerros e dois de garrotes de sobreano, em uma fração de 15% de cada lote, os quais eram compostos por 90 a 110 animais. Na média, a quantidade de ovos de nematoide por grama de fezes foi o dobro do aceitável. Em alguns animais, a infestação foi cinco vezes superior.

Diante desse resultado, o produtor, que tem um plantel de 1.600 matrizes Nelore, implementou um protocolo que começa com a aplicação de uma dose de vermífugo por via oral nos bezerros por volta dos quatro meses. Esse procedimento havia sido adotado uma única vez, por conta de um surto de diarreia, mas, apesar do sucesso, não fora incorporado à rotina da propriedade. Outra mudança, desta vez em razão da alta infestação mostrada no exame, foi a aplicação da segunda dose do vermífugo antes de os bezerros serem apartados de suas mães (isso era feito pós-desmama, quando os bezerros já estavam na fazenda de recria/engorda). A terceira dose é fornecida aos 11 meses. Como adotou o novo protocolo no ano passado, Rodrigo Liranço, que administra a propriedade junto com o pai, Antônio, ainda não mensurou a diferença no desempenho dos animais, mas prevê bons resultados. “É visível a melhora no estado corporal dos animais”, diz.

A produtora Michelle Moreno, da Fazenda GM, em Aparecida do Taboado, MS, que se dedica exclusivamente à atividade de cria, também aderiu aos testes de OPG. Assim que assumiu a propriedade, em 2018, junto com o irmão Tiago, ela tem usado esses exames para calibrar seu programa de vermifugação. “Vendo bezerros desmamados. Não posso me arriscar a ter perda de peso nessa categoria”, justifica. A metodologia de análise foi a mesma. Foram coletadas fezes de 36 bezerros pertencentes a três lotes (15% de cada um). O plantel é de 650 matrizes Nelore.

A exemplo da Fazenda Aruanã, a vermifugação dos bezerros aos quatro meses também passou a fazer parte do programa de controle de verminose. O protocolo prossegue com a aplicação do anti-helmíntico na desmama, mas apenas para as fêmeas, que Michelle pretende recriar. Como foi implantado há dois anos, os resultados já aparecem na balança. Na última desmama, os bezerros meio-sangue Angus pesaram 240 kg, acréscimo de 20 kg em relação à anterior. “Não posso creditar esse aumento no ganho de peso somente à vermifugação, até porque o ano foi chuvoso e a oferta de pasto, maior, mas certamente o protocolo contribuiu para o resultado”, afirma.

Cuidados na coleta

Os bezerros e os garrotes até os dois anos de idade são as categorias mais susceptíveis aos vermes intestinais, por isso os exames se concentram nessa faixa etária. Geralmente, os laboratórios de Parasitologia Veterinária prestam esse serviço, que também pode ser feito na própria fazenda por um veterinário. “As fezes devem ser coletadas diretamente do reto do animal ou no momento da defecação. O profissional deve inverter a própria luva de coleta e usá-la como saco de amostragem, depois retirar o ar, colocar o material em um isopor resfriado e enviá-lo diretamente ao laboratório para análise”, explica Felipe Walter. O veterinário ressalta alguns cuidados, como a importância de se coletar fezes frescas. “A coleta deve ser feita de 2 a 4 horas antes da realização do exame, pois ovos embrionados eclodem rapidamente em condições favoráveis de temperatura. Coletar fezes antigas pode incorrer em erros na análise”, alerta.

Caso se consiga enviar o material para o laboratório até 4 horas após a coleta, ele deve ser refrigerado – nunca congelado – em geladeira, na temperatura entre 2 ºC e 8 ºC. “Se forem utilizadas caixas de isopor, é importante que o gelo ou a água derretida não entrem em contato direto com as amostras”, explica Walter. De acordo com o veterinário, a despeito de o processo de refrigeração permitir que a análise seja realizada em até 48 horas, o ideal é se trabalhar com o prazo de até 24 horas entre a coleta do material e sua entrada no laboratório. Walter recomenda que análises sejam feitas a cada seis meses ou sempre que houver compra de gado. O custo do exame varia de R$ 10 a R$ 20 por animal.

Luva do veterinário é usada como recipiente após coleta do material, que deve ser analisado rapidamente.

Resistência presente

A exemplo do que já acontece no controle de carrapatos, a resistência também está presente no uso de anti-helmínticos. Segundo Enrico Ortolani, trabalhos identificaram que 90% das propriedades já apresentam resistência às ivermectinas. “A doramectina está quase empatando esse jogo”, escreveu ele em um dos artigos da série que publicou sobre o assunto em sua coluna na DBO.

De acordo com André Aguiar, existem duas formas de se investigar se há resistência no rebanho a algum tipo de vermífugo. A primeira delas é separar quatro lotes de 10 a 30 animais cada, deixar o primeiro sem vermífugo (grupo controle), tratar o segundo com o anti-helmíntico A; o terceiro, com o B e o quarto, com o C. Sempre tendo- -se o cuidado de usar produtos com princípios ativos diferentes. Para saber se há resistência, basta coletar as fezes dos animais de cada grupo (antes do tratamento e 14 dias após) e enviá-las para análise. Outra forma de se averiguar a resistência é fazer teste de “inibição de migração larval”, complementar ao OPG e que segue o mesmo protocolo de coleta e envio de fezes.