Em abril de 2009, enquanto a imprensa não especializada dava vazão à cruzada ambientalista contra a pecuária, repercutindo desde críticas legítimas até bravatas ideológicas sem a menor comprovação científica, nós estávamos reunidos com diversos de nossos pares discutindo o que era realmente uma pecuária sustentável. Naquela oportunidade compreendemos que havia a necessidade de se criar uma entidade que levasse a voz da comunidade técnico-científica para o debate, já muito polarizado entre produtores rurais, pegos de surpresa com a onda acusatória, e ambientalistas profissionais.

Então, com o objetivo de elevar o nível da discussão sobre produção pecuária sustentável, trazendo o mesmo para a realidade e com base em ciência, juntamente com outros consultores e pesquisadores especializados no tema, fundamos a Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável (APPS), entidade sem fins lucrativos membro do GTPS.

Dentre outras ações de comunicação para a sociedade, a APPS foi a responsável por escrever o Manual de Práticas para a Pecuária Sustentável, editado pelo GTPS e que está disponível, gratuitamente, no site desta entidade.

Hoje ainda há muito ruído e excesso de ideologia nas análises de alguns setores leigos a respeito da sustentabilidade da pecuária, mas o debate exaltado que coloca em lados opostos a produção pecuária e a preservação ambiental está em vias de se tornar “coisa do passado”.

Está mais do que comprovado que o produtor rural é o beneficiário em primeira instância de um meio ambiente estável, assim como a importância econômica dos produtores rurais para a sociedade, gerando também segurança alimentar por meio do ganho crescente em eficiência no campo, garantindo a sustentabilidade da produção de carne.

Há mais de 35 anos orientamos produtores, por todas as regiões do Brasil e também no exterior, nas escolhas e na implantação das mais variadas tecnologias de produção e de gestão, fazendo com que o conceito de desenvolvimento sustentável seja uma realidade, pois não há equidade social e preservação do meio ambiente sem que a produção tenha eficiência econômica.

Contudo, empreender eficiência na atividade pecuária envolve, na maioria das vezes, a intensificação da produção. Tal processo exige algum tipo de investimento, seja na própria capacitação do produtor, assistência técnica, reforma de pastagens e até na adequação ambiental.

Entretanto, muitos pecuaristas não dispõem de recursos financeiros adequados ou não estão devidamente capacitados para gerenciar recursos obtidos através de financiamento de terceiros. A indisponibilidade de capital pode gerar a exclusão dos pequenos e médios produtores da atividade.

Entendemos que a justiça social, preconizada como pilar do desenvolvimento sustentável, deve levar em consideração a sustentabilidade dos médios e pequenos pecuaristas, ou seja, qualquer processo de inovação da produção nacional deve também ser inclusivo.

Existem algumas iniciativas de promoção da pecuária sustentável que acabam por reduzir o risco de exclusão dos pequenos e médios pecuaristas da necessária evolução da produção pecuária. A Boviplan participou e participa, fornecendo suporte técnico, de algumas dessas ações, tais como: Pecuária Verde (Paragominas/PA), Acrimat em Ação (Mato Grosso), Semeando Sustentabilidade em Apuí (Apuí/AM), Campos do Araguaia (Vale do Araguaia/MT) e Produção Sustentável de Bezerros (MT).

Contudo, a promoção de eventos de treinamento de forma pontual ou de curta duração não é efetiva, o ciclo extenso de produção da pecuária e a complexidade de sua gestão na propriedade exige um acompanhamento de longo prazo. Por isso as entidades que realmente têm interesse no desenvolvimento sustentável da pecuária brasileira devem incentivar a realização de programas de capacitação continuada, inclusive de técnicos locais, para que estes possam realizar a manutenção do suporte técnico após o término dos programas.

Autor: Rodrigo Paniago, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária
Matéria publicada na Revista Feed&Food – Edição de Abril de 2019