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Não é tão fácil arar este campo

Os desafios para consolidar a armazenagem com silos fardo e bolsa no agronegócio

No mais recente pente-fino da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aparece uma boa nova: a safra agrícola deste ano deve emplacar 231,5 milhões de toneladas ou 2,2% acima do saldo anterior.

Agora, uma notícia agridoce da mesma fonte: do lado acre, a capacidade cadastrada estática de armazenamento limita-se, por ora, a 166,085 milhões de toneladas; do lado mel, o gap entre produção e estocagem inebria os fornecedores de silos, reduto onde chama atenção o crescimento da demanda de silo bolsa (silo bag) e silo fardo (wrap, bale ou bola), ambos de polietileno (PE).Um plus no torque dessa procura: sejam estruturas fixas ou silo bolsa, ruralista que investe em armazenagem própria escapa de pagar mais pelo frete durante a safra, período em que o transporte rareia e encarece, e conta com maior poder de fogo para negociar a produção em épocas do ano com preços melhores. Sem falar que a compra de silos de metal ou alvenaria depende de financiamento mais alto e moroso de ser aprovado que o do silo bolsa.

Um monte de forragem compactado sobre o solo por equipamentos como tratores e coberto por lona plástica presa à terra, o denominado silo de superfície predomina no Brasil, considera o professor doutor Patrick Schmidt, presidente da Sociedade Brasileira de Zootecnia (SBZ), docente associado do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Centro de Pesquisas em Forragicultura. “O silo de superfície apresenta menor custo e maior flexibilidade em quesitos como forma, tamanho e local”, assinala o professor, justificando assim a liderança do modelo na preferência do agronegócio. Alguns degraus abaixo figura o silo trincheira, dotado de paredes, sejam cavadas em barrancos ou construídas sobre o solo. Ele permite melhor compactação e, por extensão, uma qualidade maior da silagem, esclarece Schmidt. “Embora não haja dados oficiais, estimo em cerca de 1,5 milhão a quantidade de propriedades pecuárias que, em alguma escala, sejam produtoras e usuárias de silagem no país”.

No front do plástico, o especialista constata pouco uso para o silo bolsa, também chamado de salsichão ou linguiça, no armazenamento de forragens. “É mais comum encontrá-lo na confecção de silagens de grãos úmidos ou reidratados”, nota Schmidt. “Por serem tubos fechados, a vedação dos silos bolsas é perfeita, mas a necessidade de implemento específico para embutir o conteúdo, aliada ao maior custo do filme, faz com que esta solução, no âmbito de forragens, seja preterida em relação a outras alternativas de estocagem”. Conforme estudo divulgado pela Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), a silagem é embutida nos tubos horizontais dos silos bolsas por máquinas que podem ser alugadas ou operadas por prestadores desse serviço ao produtor rural. Os tamanhos de silo bolsa variam de 1,8 a 3m de diâmetro e 30, 60 ou 90m de comprimento. O modelo de 1,8m x 60m predomina no Brasil. Aqueles de 30 a 60m de comprimento podem alojar de duas a seis toneladas de silagem por metro linear.

Schmidt considera, até o momento, limitado no país o uso do silo fardo, também chamado de “bola”, sendo mais frequente na região sul. “Por esse sistema, a forragem úmida é compactada em pequenas unidades, de 200 a 1.000kg, a seguir coberta por camadas sucessivas de filme aderente”, descreve o professor. “O modelo fardo é indicado para a comercialização de silagens, pois as unidades menores permitem o transporte e armazenagem sem perdas do volume acondicionado. Sua desvantagem é o investimento mais alto na cobertura plástica em relação à quantidade de material armazenado”.

MOTIVAÇÃO EM FOGO BRANDO


O engenheiro agrônomo Antony Sewell, sócio da Boviplan, respeitada consultoria especializada em agropecuária, não vê tão disseminados os conhecimentos sobre silos bolsa e fardo. “Pecuaristas, comunidade científica e produtores de equipamentos e materiais plásticos precisam de mais estudos para consolidar o uso desses tipos de silos no país”, ele considera. “A baixa participação do silo bolsa em propriedades rurais pode decorrer da desinformação dos produtores. Eles precisam ser motivados a usar pela primeira vez para ver como funciona esta tecnologia”. No segmento da pecuária de leite, reparte o consultor, o silo trincheira domina em 60% o modelo de armazenagem, seguido pelo silo de superfície, com 38%. Os 2% restantes são partilhados por igual entre os silos bolsa e fardo. Conforme ele justifica, silos trincheira e de superfície dominam a preferência pelo baixo custo de construção e manuseio simples. “Apresentam alta facilidade para ensilagem e desensilagem, seja pela via mecânica ou manual”.

O armazenamento em silo fardo tem pontos positivos em relação a outros modelos de estocagem, reconhece Sewell. “Ele pode ser preparado diretamente no campo, devido à forragem ser compactada logo após sua colheita”, explica. “Cada silo constitui uma unidade independente e de menor dimensão, o que leva à redução no risco de deterioração aeróbia durante a utilização, sem falar que o formato de estocagem (fardo) facilita a comercialização da silagem”. Na mesma linha de raciocínio, o analista ressalta como trunfo da estocagem em silo bolsa a atmosfera interna desprovida de oxigênio. “Isso reduz a possibilidade de desenvolvimento de fungos e bactérias, assegurando qualidade ao conteúdo armazenado até o fim do período”. O silo bolsa também permite certa flexibilidade de instalação e transporte, prossegue Sewell. “Pode ser colocado ao lado do local de produção da forragem em vista para o armazenamento e ser depois transferido para o lugar mais próximo do trato dos animais, gerando economia na distribuição e transporte”. “O consultor salienta ainda, em favor do silo bolsa, a vantagem de exibir perdas menores, pois a forragem sai da máquina para ser colocada e compactada diretamente no tubo plástico, reduzindo seu contato com o ambiente e o fluxo de ar”. No mais, arremata, o silo bolsa comporta maior quantidade de forragem por metro quadrado. “São ideais para grandes volumes de silagem”, confirma.

Em contrapartida, coloca, silos bolsa e fardo penam com dois senões básicos: dependem de alto investimento e levam tempo considerável no desabastecimento. “A compra de uma embutidora tem sido a principal barreira, porque os produtores brasileiros, no geral, não só perdem em poder aquisitivo para os de outros países e, em sua maioria, estão descapitalizados”. Quanto ao tempo para o desabastecimento, Sewell comenta que grandes rebanhos demandam rapidez durante o processo de mistura na dieta e fornecimento aos animais. “Máquinas com a função de desensilar e misturar os ingredientes têm sido utilizadas quando a propriedade possui silos trincheira e sua operação não é compatível com silos bolsa e fardo”, ele esclarece. Desse modo, nas fazendas usuárias dos dois tipos de silos de polietileno, a retirada da silagem precisa ser manual. “O que pode complicar a logística de alimentação dos rebanhos”.

Sewell lembra que a tecnologia do silo bolsa vem de países de clima mais frio, como Argentina e Canadá, mostrando-se mais eficaz em regiões de temperaturas mais baixas. “Em locais mais frios e menos chuvosos, é possível colher produtos mais limpos e secos”, enxerga o consultor. “Nas nossas condições climáticas, é grande a chance de ocorrer fermentação do grão”.

Por extensão, Sewell julga o silo bolsa uma boa opção quando se consegue colher um grão seco e limpo e se puder garantir que o tubo não será furado, “o que não acontece na maioria das vezes nas condições brasileiras”. No pano de fundo, ele concorda que o crônico déficit doméstico na armazenagem de grãos pode vir a ser mitigado pela alternativa do silo bolsa.

Entrevista cedida à Revista Plásticos em Revista por Antony Sewell, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária
Matéria publicada na Revista Plásticos em Revista – Edição Abril de 2019