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O setor do agro sustenta o país. Estamos ouvindo esta afirmação há bastante tempo. E é verdade! Nossas exportações vão de vento em popa. Segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) o volume total exportado pelo Brasil, no mês de setembro de 2020, foi de 166.153 toneladas de carne. No ano, até o final de setembro, foram embarcadas 1,25 milhões de t de carne in natura. Ainda segundo a Abiec, o maior estado exportador do país é São Paulo, responsável por 316 mil t de carnes no ano de 2020, seguido por Mato Grosso (292 mil t), Goiás (196 mil t), Rondônia (144 mil t), Mato Grosso do Sul (140 mil t) e Minas Gerais (135 mil t).

Os principais países importadores de carnes do Brasil, de acordo com a Abiec, são China, Hong Kong, Egito, União Europeia e Chile. São importantes parceiros comerciais brasileiros, no setor, há bastante tempo. A China importou nada menos do que 600 mil t de carne em 2020, potencial que está sendo aproveitado. Mas não podemos ficar só nesses parceiros. Como já vem sendo feito, a busca por novos mercados é extremamente importante para a manutenção da nossa relevância internacional, além de garantir a pujança do negócio pecuária no mercado interno.

O quadro Preços do Boi Gordo no Mundo mostra os valores, em dólares americanos, da arroba do boi gordo em quatro dos principais países produtores e exportadores de carne bovina no mercado internacional, entre 16 de setembro e 15 de outubro de 2020. Este foi um período caracterizado pela estabilidade de preços no mercado internacional. A valorização da arroba foi de apenas 1,00%, puxada por uma alta relativamente significativa da carne brasileira, de 5,73% (passou de US$ 43,14 para US$ 45,61). A média dos quatro países foi de US$ 55,62, contra US$ 55,07 do período anterior. Ao contrário de meses anteriores, a arroba na Austrália não variou no período, fechando a US$ 79,54 contra US$ 79,56 (baixa de 0,04%). Na Argentina, houve uma pequena desvalorização de 1,68%, na média. No período, a arroba por lá fechou a US$ 41,25. Nos Estados Unidos o cenário foi de leve alta (0,89%), com média de US$ 55,09 e fechando o período, em 15 de outubro, em baixa a US$ 54,45.

A carne brasileira continua dominando as exportações no mundo, é barata e de qualidade reconhecida. Apesar de toda campanha realizada para denegrir a imagem do agro brasileiro, principalmente da pecuária de corte, o Brasil continua vendendo para cada vez mais mercados no mundo todo. A tentativa de atrelar a produção de carne no Brasil ao desmatamento ilegal, a queimadas, ao trabalho escravo e a outras aberrações é apenas consequência do sucesso da produção brasileira no setor, liderada por pecuaristas, produtores rurais, técnicos, instituições de pesquisa e pelo bom trabalho que do Ministério da Agricultura, na figura da nossa ministra Tereza Cristina e equipe.

No próximo gráfico, Evolução do preço da arroba do boi gordo por UF (Unidade da Federação), observamos a variação de preços da arroba do boi gordo a prazo em nove dos principais estados produtores de carne do País entre 16 de setembro e 15 de outubro de 2020.

E o cenário de alta continua! O valor da arroba do boi gordo no mercado interno vai batendo os seus recordes e trazendo felicidade ao produtor. É o terceiro período seguido onde a alta supera a anterior: 4,89% em jul/ago, 6,35% em ago/set e, agora, 6,98%. Que alta expressiva! O valor médio da arroba do boi gordo a prazo passou de R$ 228,75 para R$ 244,71, na média das nove praças pesquisadas. Em São Paulo, onde o preço é referência para os demais estados, o valor da arroba pulou de R$ 236,83 para R$ 255,69, na média. No dia 15 de outubro, data do fechamento desta avaliação, a arroba já era comercializada a R$ 265,00. Sem bola de cristal, dá para prever que o período de outubro a novembro de 2020 também será de alta. Todos os estados avaliados apresentaram alta no preço da arroba a prazo, incluindo o Rio Grande do Sul, que havia apresentado baixa no período anterior. O recorde ficou para MT, com alta de 10,20%, saltando de R$ 217,55 para R$ 239,74. Em seguida, pela ordem, aparecem empatados os estados do MS e PA, com 8,09% de valorização; depois, SP (7,96%), PR (7,03%), MG (6,99%), GO (5,72%), RS (4,36%) e, finalmente, SC, com 4,31% de valorização no período. No dia do fechamento, 15 de outubro, a média das nove praças já era de R$ 251,97, ou seja, 2,97% acima da média do período todo.

A seguir, no gráfico Média do preço da desmama, podemos observar a média dos preços pagos pelo macho Nelore desmamado de 180 kg (6@), em oito das principais praças produtoras do Brasil. A avaliação foi realizada entre 16 de setembro e 15 de outubro de 2020.

A categoria da desmama apresentou nova alta no período, acompanhando a tendência do mercado. No entanto, essa alta foi inferior à verificada entre agosto e setembro. A média do macho nelore de 6@ passou de R$ 2.042,86 para R$ 2.154,45, com alta de 5,46%, inferior aos 6,65% do período anterior. A média da categoria, em 15 de outubro, já era de R$ 2.209,75, ou seja, 2,57% acima da média geral para os meses de setembro a outubro. O setor de cria continua a todo vapor, remunerando bem o árduo trabalho do produtor. Mais uma vez, o preço por animal desmamado subiu em todos os estados avaliados. A diferença ficou no estado onde a categoria mais subiu: Mato Grosso do Sul, com valorização de 8,12%.

A desmama mais valorizada no País todo continua sendo em São Paulo, onde o valor para o período ficou em R$ 2.335,71 contra R$ 2.166,67 do anterior (alta de 7,80%). A alta havia sido de 3,17%, o que mostra a tendência atual de valorização, comprovada pela valorização do bezerro em R$ 2.350,00 no dia 15 de outubro. Todos os outros estados apresentaram alta nos preços desta categoria: MT, 6,48%; MG, 6,20%, RS, 4,65%, GO, 4,21%, PR, 3,12% e PA, com 2,62%.

Finalmente, no gráfico Relação de Troca Média, podemos observar as relações de troca do bezerro macho desmamado (180 kg) e do boi magro (360 kg) com o boi gordo (16,5@), entre 16 de setembro e 15 de outubro de 2020. A taxa de relação de troca entre desmama e boi gordo vem se mantendo constante, com leve tendência de alta já há algum tempo. Quando falamos em alta, significa que o poder de compra do invernista está um pouco maior. Neste período, a taxa que era de 1:1,86 passou para 1:1,90. Parece pouco, mas ajuda muito, principalmente ao setor de confinamento. Neste período, como mostra ess índice, o valor da arroba do boi gordo subiu um pouco mais do que o preço das categorias de reposição. Porém, a tendência pode não se verificar em um futuro próximo. Como sempre, a taxa de relação de troca no RS é a mais alta do país em 1:2,35, praticamente, a mesma do período anterior. Na sequência temos os estados do PA, com 1:2,02, PR, com 1:1,98, MG e MS, com 1:1,81, SP, com 1:1,79, GO, com 1:1,73 e MT, com 1:1,70.

O cenário é o mesmo quando analisamos a relação de troca do boi magro com o boi gordo. No período, a taxa média passou de 1:1,24 para 1:1,25. A relação de troca desta categoria ficou em 1:1,44 no RS. Depois, vieram os estados do PA (1:1,30), PR (1:1,24), SP (1:1,23), MG (1:1,22), GO e MT (1:1,21) e MS (1:1,17). A relação de troca é um excelente indicativo de como caminha o mercado do boi no País. O ideal é que tanto o setor da reposição quanto o setor da terminação apresentem boa rentabilidade e tragam recursos para o produtor investir no seu negócio, pagar suas contas com tranquilidade e, ainda, sobrar algum para gastar à toa, porque ninguém é de ferro. No entanto, por vezes ocorre um desequilíbrio entre estes setores, o que é absolutamente normal. Ambos os pecuaristas, sejam criadores, sejam terminadores, precisam estar atentos ao mercado e preparados para os períodos menos favoráveis. A situação está boa agora, e deve continuar assim por um bom tempo. Mas sabemos que um dia a coisa muda…

Autor: Antony Sewell, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.
Matéria publicada na Revista AG – Edição Novembro – 2020