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Apesar dos números animadores da exportação de carne bovina, a venda do boi gordo, no mercado interno, não manteve os patamares de anos anteriores

O ano de 2022 chega à sua reta final em meio a um cenário de incertezas, o que afeta também o mundo do agronegócio. O ano das eleições promoveu uma grande polarização no Brasil; dessa forma, o produtor manteve o sinal de alerta aceso em se tratando do mercado e da comercialização. Não se sabe, contudo, quais serão as próximas ações acerca do agro para o próximo ano.

O Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, após revisão realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), corrigiu a queda de 3,9% divulgada anteriormente para 3,3%. A incorporação de novos dados sobre serviços foi a responsável pela correção. Desse modo, o crescimento da agropecuária, que antes estava na casa dos 3,8%, passou a 4,2%. Levando-se em consideração os tempos difíceis pelos quais o país passou devido à pandemia, essa queda nos números se justifica e, ainda assim, nos mostra a potência e a importância do agronegócio para a economia nacional.

No mercado da carne bovina, as exportações seguiram em alta durante todo o ano. De acordo com dados da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), as vendas, no mercado externo, alcançaram US$ 1,225 bilhão em outubro de 2022. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, o volume de vendas alcançou 1,985 milhões de toneladas: 23% a mais que no mesmo período do ano anterior. Além da China, estão entre os maiores importadores da carne brasileira os Estados Unidos, o Egito, o Chile e Hong Kong.

Segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), até a segunda semana de novembro, houve aumento de 62,9% nas exportações da agropecuária, somando US$ 2,06 bilhões. Já do lado das importações, houve queda de 27,2% nas compras.

Através de dados divulgados pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) sobre o estudo das Projeções do Agronegócio, Brasil 2021/22 a 2031/32, a produção de carne (bovina, suína e aves), no país, deverá chegar a 35 milhões de toneladas na próxima década. A produção de grãos deverá aumentar cerca de 36,8% no mesmo período, chegando a um total de 370,5 milhões de toneladas na safra 2031/32, alavancada principalmente pelo algodão, milho e soja.

O gráfico abaixo representa o volume e o valor da exportação de carne bovina in natura pelo Brasil de janeiro a outubro de 2022, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Após um início de ano com baixos volumes exportados, o ritmo de comercialização começou a se intensificar com o passar dos meses. Na metade do ano, porém, houve queda no volume exportado. Nos meses de maio e junho, a venda em toneladas de carne foi, respectivamente, de 175.265 e 175.100. Apesar disso, o mês de junho bateu recorde no faturamento comparado à série histórica que teve início em 1997, chegando a US$ 1,14 bilhão. O valor arrecadado com o mercado externo manteve-se em bons patamares até meados de agosto, fechando o mês com o maior valor registrado no ano – uma receita de US$ 1,35 bilhão.

Segundo dados da Abiec, somente no primeiro semestre do ano, as receitas oriundas da exportação de carne bovina brasileira foram 52% maiores que o mesmo período do ano anterior. De janeiro a junho deste ano, o faturamento chegou a US$ 6,2 bilhões.

O próximo gráfico mostra a Evolução do Preço da Arroba no Mundo e apresenta os valores praticados nas principais praças internacionais de 3 de janeiro a 15 de novembro de 2022.

Com exceção dos Estados Unidos, a variação percentual no preço da arroba nos países analisados fechou o período em queda. A comparação de janeiro e novembro demonstrou queda de 13% na arroba brasileira, 18% na Argentina e 7% na Austrália. No país norte americano, houve aumento percentual de 6% no preço praticado. A média de preço da arroba de janeiro a novembro fechou em US$ 59,18 no Brasil, US$ 69,13 na Argentina, US$ 107,74 na Austrália e US$ 75,09 nos Estados Unidos.

O gráfico da Evolução do preço da arroba do boi gordo a prazo mostra o comportamento dos valores praticados de 3 de janeiro a 15 de novembro de 2022 nos principais estados produtores de carne vermelha no Brasil.

Apesar dos números animadores da exportação, a venda do boi gordo no mercado interno brasileiro não manteve os bons índices dos anos anteriores e apresentou evidente queda nos preços.

Houve declínio em todas as praças avaliadas quando comparamos os meses de janeiro e novembro. A menor queda percentual ocorreu em Mato Grosso (23%), que passou de R$ 308,49 para R$ 238,14. A queda foi seguida por Minas Gerais (21%), Goiás, Mato Grosso do Sul e Rondônia, com queda de 19%, São Paulo (18%), Pará e Paraná (14%) e Santa Catarina (8%).

As médias de preço do ano fecharam o período avaliado em patamares abaixo de R$ 300,00, com as exceções de São Paulo e Santa Catarina, que fecharam o período em R$ 304,14 e R$ 311,08, respectivamente. A menor média foi registrada em Rondônia (R$ 266,04), seguida do Pará (R$ 275,43), Mato Grosso (R$ 279,51), Goiás (R$ 285,21), Mato Grosso do Sul (R$ 287,21), Minas Gerais (R$ 287,29) e Paraná (R$ 299,19).

O gráfico da Evolução do Preço da Desmama apresenta os valores praticados nas principais praças pecuárias brasileiras de 3 de janeiro a 15 de novembro de 2022.

Os preços da desmama demonstraram, praticamente, a mesma tendência que a arroba do boi gordo. Quando comparamos o mês de janeiro com o mês de novembro de 2022, a maior desvalorização ocorreu na desmama de Rondônia, com queda percentual de 27%, passando de R$ 2.842,86 para R$ 2.071,52. Não houve valorização em nenhuma das praças avaliadas.

A segunda maior queda ocorrida na desmama foi em Goiás (26%), seguida de São Paulo e Mato Grosso, ambos com queda de 22%, Minas Gerais (19%), Mato Grosso do Sul (18%), Pará e Santa Catarina (11%) e Paraná (10%).

No último gráfico desta coluna, Evolução da Relação de Troca média do bezerro desmamado de oito meses de 180 quilos e do boi magro de 360 kg com o boi gordo de 16 arrobas, estão os valores médios obtidos no decorrer do ano para cada estado.

Em comparação com a média geral do ano de 2021, houve aumento na relação de troca entre desmama e boi gordo de 6%, fechando em 1:1,92 ante 1:1,81 do ano anterior. Dados divulgados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) mostram que o mês de novembro fecha com a pior relação de troca do ano para o terminador.

Em comparação a 2021, o maior aumento percentual ocorreu na praça de Rondônia (14%), seguida de São Paulo (10%), Mato Grosso do Sul (9%), Santa Catarina (7%), Paraná (6%), Goiás (5%), seguido de Minas Gerais e Pará, com aumento de 3% em ambos. O único estado que demonstrou sutil queda na relação de troca foi Mato Grosso (1%), passando de 1:1,70 para 1:1,68.

A relação de troca entre boi magro e boi gordo também teve valorização na média geral em relação ao ano anterior, fechando em 1:1,25, ante 1:1,20 de 2021, aumento de 6%.

Na mesma comparação feita com a desmama, a maior valorização ocorreu em Rondônia (10%), seguida de Mato Grosso do Sul (9%), Paraná (7%), Santa Catarina (6%), Goiás (5%), São Paulo (4%) e Minas Gerais (1%). Não houve alteração na relação de troca do Pará, que permaneceu em 1:1,25. Houve desvalorização apenas na praça de Mato Grosso, passando de 1:1,18 para 1:1,16 (2%).

Por Antony Sewell, consultor da Boviplan, e Victória Girnos, analista de Mercado da Boviplan.