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Que início de ano! A expectativa de manutenção do preço da carne nos patamares do final do ano de 2019 não se confirmou. Mas já era de se esperar… O aumento verificado não tinha como se manter. De qualquer forma, não veremos um recuo dos preços aos níveis pré-crise chinesa. Tudo é uma questão de acomodação. Já passamos por situações semelhantes diversas vezes, e, agora, não será diferente.

A exportação de carne bovina continua sendo um excelente negócio para o País. Esse quadro não mudará, nem no curto, nem no médio prazo. A tendência é sempre de aumento dos negócios do setor com o resto do mundo. Nossa carne é ótima, barata e produzida com qualidade. Sofremos, de forma injusta, críticas devido a problemas ambientais que sabemos que existem, mas que não são, nem de longe, tão graves quanto querem fazer crer os ambientalistas e políticos de ocasião pelo mundo afora.

O quadro Preços do Boi Gordo no Mundo mostra os valores da arroba do boi gordo, em dólares americanos, em quatro dos principais países exportadores mundiais, no período compreendido entre os dias 18/11/2019 e 15/01/2020. O valor da arroba em dólares americanos, nos países apresentados no gráfico, caiu, em média, 2,24% no período analisado, que foi do dia 18/11/2019 a 15/01/2020. A maior queda ocorreu na Argentina, onde a arroba passou de US$ 41,50 para US$ 37,67 (-9,23%).

Apesar dos problemas com os fortes incêndios na Austrália, o preço da arroba naquele país praticamente se manteve constante, subindo US$ 0,23, passando de US$ 56,47 para US$ 56,70. Nos Estados Unidos, a queda foi de 2,73%, com a arroba do boi gordo cotada, na média do período, em US$ 61,71. Já no Brasil, tivemos alta de 1,25%, com os valores passando de US$ 49,67 para US$ 50,29. Com isso, a diferença de valor da arroba do boi gordo para Brasil e Argentina, em termos percentuais, aumentou de 19,69% para 33,50%. A arroba no país vizinho continua bem mais baixa que a nossa, tornando a Argentina mais competitiva no mercado internacional. Carne de qualidade eles têm, mas não em quantidade suficiente para abastecer o mercado que o Brasil atende.

No gráfico Evolução do preço da arroba do boi gordo por unidade da Federação, podemos observar a variação de preços da arroba em nove das principais praças pecuárias do Brasil, pesquisadas entre os dias 18/11/2019 e 15/01/2020. Ele mostra muito bem o comportamento dos preços da arroba do boi gordo no período. No final de novembro do ano passado, tivemos o já famoso pico de preços, no qual o valor nominal da arroba bateu recordes, chegando a R$ 230,00 no estado de São Paulo. O aumento dos preços foi acompanhado no resto do País, como é de praxe. Mas, já em meados de dezembro, os preços recuaram, mas não voltaram aos valores praticados antes da crise da peste suína asiática.

Assim, a análise desse período, em termos de valores históricos, fica mais complicada. A média observada nos nove estados avaliados para o período foi de R$ 194,83 por arroba negociada, contra um valor de R$ 161,43 para o período de 16/10 a 14/11/2019. O diferencial de preços ficou na ordem de 20,69%. O valor da arroba mudou de patamar novamente!

A média do valor da arroba do boi gordo a prazo foi puxada para cima em todos os estados brasileiros. A valorização média de todos eles foi de 20,74%, sendo que o estado no qual mais subiu foi Santa Catarina, onde o valor passou de R$ 154,55 para R$ 196,61, aumento de 27,22%. No Pará, ao contrário, ocorreu a menor valorização, da ordem de 12,74%. Nos demais estados, a situação ficou a seguinte: São Paulo, valorização de 21,08%; Minas Gerais, 18,67%; Goiás, 22,92%; Mato Grosso do Sul, 18,64%; Mato Grosso, 19,95%; Paraná, 18,32%; e Rio Grande do Sul, 27,12%.

O aumento exagerado de novembro de 2019 foi especulativo, tanto que houve recuo nos preços já em dezembro. No entanto, o cenário geral da cadeia interna da carne voltou ao seu normal. Está chovendo novamente, os produtos estão escoando normalmente e não há nada com o que se preocupar. É só trabalhar para produzir com qualidade e eficiência.

O gráfico Média do preço da desmama mostra o preço médio pago pelo macho Nelore desmamado de 180 kg, praticado no período compreendido entre os dias 18/11/2019 e 15/01/2020. A média de preços da desmama – macho Nelore, oito meses, 180 kg – subiu de forma considerável nesse período, acompanhando o valor da arroba do boi gordo. O aumento foi da ordem de 12,62%,passando de R$ 1.328,00 para R$ 1.495,70. Houve uma reversão na tendência de queda dos preços dessa categoria. Apesar da melhora nas condições das pastagens em função da volta das chuvas, o principal fator que levou a essa alta foi mesmo a elevação no valor da arroba do boi gordo.

Assim como no caso do boi gordo, todos os estados avaliados apresentaram alta no período para a desmama. A situação, estado por estado, ficou a seguinte: São Paulo, alta de 10,40% (R$ 1.551,08/cab); Minas Gerais, 4,54% (R$ 1.381,89); Goiás, 23,59% (R$ 1.1717,84); Mato Grosso do Sul, 9,32% (R$ 1.484,32); Mato Grosso, 8,91% (R$ 1.485,14); Pará, 4,00% (R$ 1.431,89); Santa Catarina, 21,67% (R$ 1.564,59); e Rio Grande do Sul, 20,06% (R$ 1.348,59).

O gráfico Relação de Troca média apresenta as relações de troca do bezerro macho desmamado e do boi magro com o boi gordo, entre os dias 18/11/2019 e 15/01/2020.

A relação de troca entre desmama e boi gordo foi positivamente impactada para os invernistas nesse período. Esse índice subiu de 1,96:1 para 2,08:1. Com o forte aumento do valor da arroba, o poder de compra que um boi gordo proporciona aumentou. Apesar da alta no valor das categorias mais leves, a balança pendeu para o lado da terminação no período analisado. Na comparação por estados, essa relação subiu em seis deles: São Paulo, 2,14; Minas Gerais, 2,26; Mato Grosso do Sul, 2,06; Mato Grosso, 1,98; Pará, 2,06; e Rio Grande do Sul, 2,44. Já em Goiás e no Paraná, caiu, ficando em 1,79 e 1,89, respectivamente.

No quesito boi magro, Goiás não apresentou diferença, mantendo a relação em 1,19:1. Nos estados do Pará e do Paraná, a relação caiu um pouco, ficando em 1,29 e 1,27, respectivamente. Nos demais estados essa relação subiu, permitindo ao invernista comprar a reposição em condições mais satisfatórias, ficando assim definida: São Paulo e Minas Gerais, 1,35:1; Mato Grosso do Sul, 1,30:1; Mato Grosso, 1,27:1; e Rio Grande do Sul, 1,46:1.

De posse de todos esses números apresentados e de tantos outros índices importantes para a cadeia da carne, o pecuarista tem como conduzir o seu negócio de forma que ele se mantenha eficiente e rentável. Os altos e baixos sempre existirão, e o bom produtor não se empolga na alta nem se desespera na baixa. Ele está preparado para tudo isso.

Temos que lidar com as queimadas, com a seca, com a falta de habilidade política, com o mercado, com as doenças (agora, o coronavírus novamente), ambientalistas, veganos etc. Só um bom planejamento aliado a uma gestão de qualidade trará à categoria os resultados esperados. Não é difícil. Temos totais condições de nos manter na liderança do mercado mundial da carne e, ainda, oferecer ao mercado interno, que é o nosso principal consumidor, um produto de altíssima qualidade.

Autor: Antony Sewell, sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.
Matéria publicada na Revista AG – Edição Fevereiro – 2020